O Brasil começa a chamar a atenção internacional para a inovação tecnológica na indústria têxtil. Aqui, vale ter o tecido mais arrojado, bonito e sustentável
LAURA LOPES
Arquivo
A laise em lã, da Huis Clos: uma solução delicada para o inverno
Eles ganham destaque duas vezes por ano, na passarela de cada temporada da São Paulo Fashion Week (SPFW). É ali que ficam sob os holofotes, acariciando o corpo das modelos. Estas, por sua vez, só ficam famosas se conseguem dar a eles sua devida importância. A alma dos desfiles é, ainda que vozes discordantes digam o contrário, a roupa. E, junto com ela, os tecidos, pensados muitos meses antes de serem mostrados ao público. O caimento, a textura, as cores, as possibilidades de recortes e estampas, a mistura de estilos, ou a afirmação de apenas um. O trabalho do estilista é desenhar a roupa, mas também pensar a gama de tecidos que podem ser usados e, se necessário, desenvolver novos materiais.
Esse tipo de pesquisa está avançando no Brasil em todas as fases da cadeia de produção: pequenas e grandes empresas, da fibra ao design da roupa, debruçam-se sobre invenções baratas, práticas e, muitas vezes, sustentáveis. O algodão ganhou coloração no pé, o que diminui o gasto de água com o tingimento do tecido. A lã virou orgânica e o couro, ecológico. O tricô ganhou aspecto de linho e a delicada e vaporosa laise ficou quentinha como uma lã, para o inverno. Alguns tecidos passam a durar por mais tempo, outros ganham novas aplicações. Em qualquer situação, quem ganha é o consumidor.
Arquivo
Em parceria com a Santista, a Ellus criou o leather jeans, uma espécie de jeans bem fininho que parece couro, mas não é
"O Brasil se destaca porque poucos países têm todos os elos da cadeia têxtil – da fibra ao design. Temos todo esse know how na mão", afirma Rafael Cervone Netto, diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, sobre o fato de países desenvolvidos terceirizarem suas confecções em países mais pobres. Nesse ponto, o Brasil sai na frente. Pesquisadores do interior de São Paulo, por exemplo, estudam uma maneira de usar o bagaço da cana-de-açúcar, oriundo das usinas de álcool, para criar uma fibra. Além disso, o país começou a despontar como nome forte na produção de tecidos verdes.
Rony Meisler, um dos sócios da marca Reserva diz que o "investimento constante na pesquisa de novas matérias-primas é fundamental para a indústria de moda". Segundo ele, a pesquisa também abrange produtos mais responsáveis sócio-ambientalmente. A inovação da marca para a última SPFW foi criada a quatro mãos, ao lado da estilista Juliana Gevaerd: o tricot de viscolinho, cujo maior atributo é estético – tem o aspecto granulado comum ao papel reciclado e é usado em cardigans e agasalhos.
A onda "ecológica" já encobriu as araras da Osklen e da Ellus. A marca carioca de Oskar Metsavaht levou às passarelas os e-fabrics. São tecidos ecológicos criados em parceria com o Instituto-e, como a lã orgânica, o couro ecológico com sarja, o tricô de palha de seda, o shantung de seda e o tressê de palha de seda. A ideia da entidade é sensibilizar as pessoas para a causa ambiental, sem radicalismos, mas tentando transformar o discurso em ação. O instituto mapeia matérias-primas e produtos de origem sustentável, feitos por artesãos e indústrias conscientes.
A Ellus, em parceria com a Santana Textiles, criou o BEM (ou Bi Elastic Movement). Todos os tecidos do BEM possuem elastano no sentido da trama (horizontal) e no sentido do urdume (vertical). Segundo a marca, uma garantia de conforto ao movimento. Nessa temporada da SPFW, quem reinou absoluto na passarela da Ellus foi o leather denim, o jeans com aspecto de couro, superleve e de secagem rápida – usado para fazer casacos, calças (justérrimas) ou saias. Para criá-lo, nenhuma vaca foi agredida.
Sara Kawasaki, estilista da Huis Clos e dona de uma das coleções mais elogiadas da semana de moda paulistana, inovou com uma laise de lã. A laise de algodão é toda fresquinha, indicada para dias quentes. Para o inverno, no entanto, foi substituída. O novo tecido tem os famosos "furinhos" da laise de algodão, mas lembrando o peso de uma lã grossa. Segundo Sara, "não é toda empresa que se disponibiliza e tem matéria prima ou maquinário para fazer tecidos novos. Nós achamos essencial".
Mario Queiroz e Reinaldo Lourenço mostraram duas novidades na SPFW. Mario surgiu com o black jeans estampado (inspirado no jeans dos anos 80) e a malha para alfaiataria. Esta é um material próprio para um certo tipo de máquina que não é usada na costura de alfaiataria. A inovação aqui foi criar um tecido que pudesse ser manipulado nas mesmas máquinas que fazem ternos. "Não há novidades na moda sem novos tecidos", diz o estilista. "Cada vez mais as tecelagens e os designers trabalham juntos, dividindo informações, criações e técnicas", afirma. Reinaldo Lourenço investiu no jacquard, um tecido que lembra a tapeçaria e muito procurado por possibilitar estampas e texturas exclusivas (para vestidos, tops e casacos). O estilista também criou uma seda parecida com o lurex: metalizada, com brilho molhado e estrutura leve, para vestidos longos. Em sua pesquisa, Reinaldo e equipe frequentam brechós no Brasil e em Paris e feiras do setor e leem livros: tudo é referência para a busca de novas texturas.
LAURA LOPES
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A laise em lã, da Huis Clos: uma solução delicada para o inverno
Eles ganham destaque duas vezes por ano, na passarela de cada temporada da São Paulo Fashion Week (SPFW). É ali que ficam sob os holofotes, acariciando o corpo das modelos. Estas, por sua vez, só ficam famosas se conseguem dar a eles sua devida importância. A alma dos desfiles é, ainda que vozes discordantes digam o contrário, a roupa. E, junto com ela, os tecidos, pensados muitos meses antes de serem mostrados ao público. O caimento, a textura, as cores, as possibilidades de recortes e estampas, a mistura de estilos, ou a afirmação de apenas um. O trabalho do estilista é desenhar a roupa, mas também pensar a gama de tecidos que podem ser usados e, se necessário, desenvolver novos materiais.
Esse tipo de pesquisa está avançando no Brasil em todas as fases da cadeia de produção: pequenas e grandes empresas, da fibra ao design da roupa, debruçam-se sobre invenções baratas, práticas e, muitas vezes, sustentáveis. O algodão ganhou coloração no pé, o que diminui o gasto de água com o tingimento do tecido. A lã virou orgânica e o couro, ecológico. O tricô ganhou aspecto de linho e a delicada e vaporosa laise ficou quentinha como uma lã, para o inverno. Alguns tecidos passam a durar por mais tempo, outros ganham novas aplicações. Em qualquer situação, quem ganha é o consumidor.
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Em parceria com a Santista, a Ellus criou o leather jeans, uma espécie de jeans bem fininho que parece couro, mas não é
"O Brasil se destaca porque poucos países têm todos os elos da cadeia têxtil – da fibra ao design. Temos todo esse know how na mão", afirma Rafael Cervone Netto, diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, sobre o fato de países desenvolvidos terceirizarem suas confecções em países mais pobres. Nesse ponto, o Brasil sai na frente. Pesquisadores do interior de São Paulo, por exemplo, estudam uma maneira de usar o bagaço da cana-de-açúcar, oriundo das usinas de álcool, para criar uma fibra. Além disso, o país começou a despontar como nome forte na produção de tecidos verdes.
Rony Meisler, um dos sócios da marca Reserva diz que o "investimento constante na pesquisa de novas matérias-primas é fundamental para a indústria de moda". Segundo ele, a pesquisa também abrange produtos mais responsáveis sócio-ambientalmente. A inovação da marca para a última SPFW foi criada a quatro mãos, ao lado da estilista Juliana Gevaerd: o tricot de viscolinho, cujo maior atributo é estético – tem o aspecto granulado comum ao papel reciclado e é usado em cardigans e agasalhos.
A onda "ecológica" já encobriu as araras da Osklen e da Ellus. A marca carioca de Oskar Metsavaht levou às passarelas os e-fabrics. São tecidos ecológicos criados em parceria com o Instituto-e, como a lã orgânica, o couro ecológico com sarja, o tricô de palha de seda, o shantung de seda e o tressê de palha de seda. A ideia da entidade é sensibilizar as pessoas para a causa ambiental, sem radicalismos, mas tentando transformar o discurso em ação. O instituto mapeia matérias-primas e produtos de origem sustentável, feitos por artesãos e indústrias conscientes.
A Ellus, em parceria com a Santana Textiles, criou o BEM (ou Bi Elastic Movement). Todos os tecidos do BEM possuem elastano no sentido da trama (horizontal) e no sentido do urdume (vertical). Segundo a marca, uma garantia de conforto ao movimento. Nessa temporada da SPFW, quem reinou absoluto na passarela da Ellus foi o leather denim, o jeans com aspecto de couro, superleve e de secagem rápida – usado para fazer casacos, calças (justérrimas) ou saias. Para criá-lo, nenhuma vaca foi agredida.
Sara Kawasaki, estilista da Huis Clos e dona de uma das coleções mais elogiadas da semana de moda paulistana, inovou com uma laise de lã. A laise de algodão é toda fresquinha, indicada para dias quentes. Para o inverno, no entanto, foi substituída. O novo tecido tem os famosos "furinhos" da laise de algodão, mas lembrando o peso de uma lã grossa. Segundo Sara, "não é toda empresa que se disponibiliza e tem matéria prima ou maquinário para fazer tecidos novos. Nós achamos essencial".
Mario Queiroz e Reinaldo Lourenço mostraram duas novidades na SPFW. Mario surgiu com o black jeans estampado (inspirado no jeans dos anos 80) e a malha para alfaiataria. Esta é um material próprio para um certo tipo de máquina que não é usada na costura de alfaiataria. A inovação aqui foi criar um tecido que pudesse ser manipulado nas mesmas máquinas que fazem ternos. "Não há novidades na moda sem novos tecidos", diz o estilista. "Cada vez mais as tecelagens e os designers trabalham juntos, dividindo informações, criações e técnicas", afirma. Reinaldo Lourenço investiu no jacquard, um tecido que lembra a tapeçaria e muito procurado por possibilitar estampas e texturas exclusivas (para vestidos, tops e casacos). O estilista também criou uma seda parecida com o lurex: metalizada, com brilho molhado e estrutura leve, para vestidos longos. Em sua pesquisa, Reinaldo e equipe frequentam brechós no Brasil e em Paris e feiras do setor e leem livros: tudo é referência para a busca de novas texturas.
Fonte:revistaepoca.globo.com
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