Foi na República Velha que se afirmou nossa primeira revolução industrial. O surgimento de fábricas brasileiras foi quase espontâneo, já que não havia muita ajuda do governo. Os políticos estavam ligados a latifundiários e dominados pela crença tradicionalista de que “o Brasil deve ser um país agrário. A indústria nada tem a ver com nossas tradições”.
No século XIX apareceram umas poucas fábricas, geralmente para produzir tecidos ordinários de algodão para vestir escravos. Em 1866 eram apenas nove, sendo que cinco delas ficavam na Bahia. A partir de 1885 é que começam a aparecer fábricas voltadas para um mercado interno mais amplo. No começo do século XX, algumas indústrias se instalaram no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, mas as principais estavam localizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.É claro que as fábricas não surgem do nada, como o brotar dos cogumelos após uma noite de chuva. Existem pré-requisitos: capital disponível para ser investida, mão-de-obra abundante e barata, mercado consumidor, chances de obter altos lucros. Vamos ver a existência desses fatores nos dois principais esta dos industriais. No Rio de Janeiro, o capital veio indiretamente do café. O Vale do Paraíba estava de cadente há muito tempo. Ninguém mais fazia no vas inversões (investi mentos) na cafeicultura.
Mas o passado cafeeiro e o fato de ser a capital do Brasil dotaram o Rio de Janeiro de banqueiros e grandes comerciantes. Foram eles que começaram a botar dinheiro nas fábricas, um bom negócio alternativo. Cidade grande, cheia de gente pobre disposta a trabalhar, porto ativo, bem servida por ferrovias, mercado consumidor, tudo isso favorecia.
Assim, em 1889, quase 60% do capital industrial do Brasil estava na cidade do Rio. São Paulo foi mais favorecido ainda. As primeiras fabriquetas apareceram por volta de 1870, mas a coisa esquentou mesmo a partir de 1890. De onde veio tanto capital para investir? Do café. E como ninguém tinha tanto café como São Paulo (graças à abundante terra roxa e à multidão de imigrantes que chegaram lá no momento exato), ninguém possuía tanto capital para investir. Eis aí a explicação básica para o extraordinário crescimento industrial paulista na República Velha e nos anos posteriores.
Quando as exportações de café paulista iam bem, os investimentos industriais se multiplicavam. Grande parte da mão-de-obra febril era formada por imigrantes estrangeiros. Muitos sabiam ler e escrever e até tinham conhecimentos técnicos. Por isso eram tão apreciados. Por volta de 1895, os estrangeiros eram 40% dos operários cariocas e 70% dos paulistanos. Alguns imigrantes conseguiram enriquecer, muitas vezes por que serviam de intermediários entre os importadores brasileiros e os exportadores de seu país. Chegavam com algumas economias, mantinham contato com sua terra natal, criavam um escritoriozinho de importação e, em poucos anos, tornaram-se milionários (foi o caso do famoso Matarazzo).
Outros fatores que ajudaram o desenvolvimento industrial do Sudeste foram a facilidade de obter energia (hidrelétricas e portos para importar carvão), matéria-prima disponível e barata (São Paulo, por exemplo, era o maior produtor de algodão, base para os tecidos) e um sistema de transportes (ferrovias) já desenvolvido por causa da agroexportação.
E a concorrência estrangeira não atrapalhou? Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), essa concorrência diminuiu. Afinal, os países em guerra ocuparam toda a indústria na produção de armas. Acontecia que aqui não havia indústria de base de vulto (aço, máquinas pesadas, etc.).Tínhamos de importar as máquinas para as fábricas. Ora, a guerra fazia com que os países europeus quase não pudessem nos exportar essas máquinas. A alternativa era procurar os EUA.
A desvalorização cambial da moeda brasileira (beneficiando os exportadores de café) dificultava as importações. Os produtos estrangeiros ficavam bem mais caros. Menor concorrência, chance para a indústria nacional. Mas, de novo, havia ó efeito inverso: a importação de máquinas industriais tinha se tornado mais difícil.
Tudo indica que na verdade fomos beneficiados pelas mutações na indústria mundial. A Europa ocidental e os EUA estavam vivendo a Segunda Revolução Industrial. As exportações da velha indústria de tecidos e roupas já não davam tanto lucro como antes. Agora, as queridinhas dos capitalistas eram as indústrias de aço, máquinas, locomotivas, petróleo, produtos químicos. Eram essas coisas que eles queriam exportar para a América Latina.
Assim, foi nesse buraco aberto pela diminuição da concorrência estrangeira que surgiu o espaço para novas indústrias. Deixávamos de importar, para produzir aqui. Foi o que se chamou de substituição de importações.
A indústria brasileira era basicamente a de bens de consumo (tecidos, chapéus, alimentos, bebidas, vidros, móveis, sapa tos, cigarros, couros, etc.), porque exigia menor investimento de capital, o lucro era mais rápido, havia tecnologia disponível e o consumo era garantido. Isso representava uma fraqueza: ficávamos dependentes da importação de máquinas. Uma das raras exceções foi a instalação da siderúrgica Belgo-Mineira, em 1921 (estrangeira).
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