Discutir a ética na moda é assunto amplo, que pode se estender às mais diversas áreas, como fator humano, fator ambiental e fator econômico.
Ao adquirir uma nova peça de vestuário e olhar para a etiqueta, dificilmente uma pessoa irá parar para refletir, ainda que por alguns minutos sobre a origem da camiseta, do vestido, da calça, e assim por diante.
Quando criada, uma peça de roupa passa por um longo processo de produção. Este, tem início na criatividade do estilista, que irá desenhar o modelo, escolher o tecido, a cor, para finalmente enviar o molde para a modelista e assim, iniciar o processo de produção.
Depois de produzida, a roupa será apresentada em um desfile primavera/verão ou outono/inverno e depois de alguns meses estará em inúmeras revistas de moda e vitrines de lojas, sejam elas nacionais ou internacionais, considerando-se que hoje a moda é global.
Tomemos como ponto de partida a indústria têxtil, matéria prima para a criação de qualquer peça de vestuário. Atualmente, muitas marcas optaram pelo tecido sintético, mesmo assim, o algodão ainda tem sido amplamente utilizado.
Isto nos faz pensar em plantações de algodão. Até que ponto existe hoje uma consciência ambiental ao se extrair da natureza a matéria-prima para se criar uma peça de roupa que em poucos meses poderá “sair de moda” e acabar sendo esquecida dentro do armário?
O problema ambiental não se encontra apenas na extração do algodão, mas também na poluição causada pelas fábricas de tecidos sintéticos, que embora favoreçam a economia, oferecendo produtos mais baratos, têm origem em fontes não renováveis, como o petróleo, por exemplo. Além disso, as fibras não são 100% biodegradáveis, de duvidosa salubridade e, portanto, não recicláveis.
A opção sustentável e, por consequência, ética, são as peças de vestuário provenientes de tecidos orgânicos, naturais, ou reciclados, considerando-se que respeitam o meio ambiente e não agridem a natureza. No entanto, por ser uma nova forma de confecção, este tipo de tecido encarece o produto final, dificultando a atração de possíveis consumidores, preocupados com o alto preço.
O que fazer para construir uma nova ética na moda? Parece-me razoável o incentivo ao consumo consciente.
O consumo consciente deve partir de cada indivíduo, que deverá ter um olhar mais crítico sobre aquilo que consome. Isto pode ter início em pequenos gestos, como por exemplo, olhar a etiqueta e verificar qual a matéria prima da peça de vestuário em questão, procurar se informar se a mão-de-obra utilizada não é explorada, como infelizmente acontece em muitos países emergentes, como Brasil, Índia e China. Além disso, evitar o consumo de produtos de origem animal, como peles. Entidades como a PETA (www.peta.org) já demonstraram a crueldade com que estes produtos são fabricados.
É com este propósito, que foi criado na França no ano de 2004, o Ethical Fashion Show (http://www.ethicalfashionshow.com/efs2/efs_2009.html), que acontece em Paris e tem duração de quatro dias. O evento procura mostrar a emergência de uma consciência global e despertar o desejo do consumidor por uma moda responsável, tanto ética, quanto ecologicamente, por meio de desfiles e conferências.
Este tipo de iniciativa é muito importante, pois promove discussões sobre o consumo consciente e valoriza uma visão mais ética da moda, na medida em que incentiva o respeito à mão-de-obra, reivindicando melhores condições de trabalho para aqueles que costumavam ser explorados. Defende a natureza ao falar sobre os impactos ambientais que são causados pela indústria têxtil e promove parcerias com comunidades que fabricam produtos artesanais, pois além de ser um importante projeto social, valoriza a cultura local e gera empregos.
Vale lembrar que o comércio justo não é o da produção desenfreada favorecida pelos baixos custos de matérias primas que agridem o meio ambiente ou de pessoas cuja mão de obra é explorada, mas sim, o que oferece produtos sustentáveis a um preço acessível.
Uma última idéia de como usar moda consciente, é a customização de suas próprias roupas, é saber reutilizar peças que ficaram esquecidas com o passar do tempo, seja costurando uma lantejoula, colocando um broche ou fazendo uso de um acessório que dê nova vida à produção.
Se não estiver contente com o que tem no guarda-roupa, promover trocas entre amigos é dar uma nova chance à aquilo que percorreu um longo caminho até chegar às nossas mãos. Quantos de nós não tem peças que estão abandonadas há um certo tempo no armário e que poderiam ser reutilizadas, ainda que por um novo dono? Não precisamos comprar tudo o que vemos.
Devemos ter a consciência global de que tudo o que consumimos está sendo descartado muito rapidamente, mas para onde está indo todo esse lixo? Para o meio ambiente, que sofrerá cada vez mais se não começarmos a agir agora.
Paula Fernanda Prado Pereira
é graduada em Comunicação com ênfase em Marketing pela ESPM e Mestre em Administração pela PUC-SP
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