Há cem anos, a fábrica de rendas Arp chegava à cidade. Hoje, 1.434 fábricas transformam setor no maior empregador local
Foi numa longínqua manhã de junho de 1911, quando a cidade serrana de Nova Friburgo era colorida pelas plantações que abasteciam o Rio de Janeiro, então capital do país, que moradores locais ouviram, pela primeira vez, aquele barulho até então desconhecido. Era o apito da fábrica de rendas Arp que chamava seus empregados para a primeira de muitas jornadas de trabalho e, sem que ninguém previsse, marcava o nascimento de um dos mais importantes polos industriais brasileiros. Cem anos depois, com muito óleo para azeitar engrenagens de empresas de diversos ramos, os números da indústria de Nova Friburgo chamam a atenção: com 1.434 fábricas e 20.498 postos de trabalho, o setor detém 41% dos empregos do município, o segundo maior índice do estado do Rio de Janeiro.
INDUSTRIALIZAÇÃO COMEÇOU COM NOITE DE PROTESTOS
Os números impressionam: de cada quatro peças de lingerie compradas no Brasil, uma é produzida em Nova Friburgo. Com um total de 954 indústrias, o polo de moda íntima local é o maior do país e, junto com o setor metal mecânico (86 empresas), o que mais emprega na região.
E, se atualmente a tendência das grandes marcas é descentralizar e terceirizar a produção, o começo da industria têxtil na cidade foi concretizado em grandes armazéns e, alguns anos antes, marcado por uma noite com muitos lampiões quebrados.
Os historiadores João Raimundo e Ricardo Costa, que dão suporte ao Comitê Centenário da Indústria de Nova Friburgo, contam que o início fabril na região se deu com a inauguração da primeira hidrelétrica da cidade. Em 1911, o empresário alemão Julius Arp, que já morava na capital fluminense, conseguiu, com a ajuda de protestos da população local, a concessão da energia elétrica para abastecer a primeira indústria da região, sua fábrica de rendas Arp.
— Julius Arp foi patrono e estimulou a vinda de diversos outros empresários alemães para a região, como Maximilian Falck, da Ypu, em 1912; e Otto Siems, da Filó, em 1925 — diz Costa.
A ferrovia, chegada há apenas algumas décadas ao município, também impulsionou a migração de pessoas da classe média e facilitou a a entrada e a saída do que era produzido em Friburgo. Com isso, a cidade deixou de ser apenas um apêndice de Cantagalo, na época importante produtora de café.
Segundo Raimundo, em 1937, o empresário Hans Gaiser teve papel semelhante ao de Arp, ao instalar a primeira fábrica de metal mecânico de Nova Friburgo: a empresa de maçanetas Haga.
NOVO NORTE PARA O SETOR CENTENÁRIO
Para comemorar o centenário da industrialização em Nova Friburgo, que termina em junho deste ano, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) organizou uma exposição no Shopping Cadima e uma série de eventos que discutem os rumos do setor.
— O principal objetivo das comemorações é marcar o centenário de forma compatível com a importância histórica da indústria na transformação econômica e social da cidade. A luz do passado é importante para iluminar os dias de hoje, quando procuramos delinear um novo futuro. É um trabalho da maior importância — diz Vicente Bastos, presidente da Firjan regional.
O coordenador do comitê organizado pela federação, Antônio Carlos Cordeiro, concorda. De acordo com ele, o futuro do setor está justamente em sua origem.
— Tivemos encontros recentes com membros do consulado da Alemanha, a quarta economia mundial. Temos que nos aproximar desse modelo e voltar a fabricar produtos premium — diz Cordeiro.
O coordenador aposta em empresas do setor metal mecânico e também defende incentivos fiscais maiores. Para ele, os valores de ICMS cobrados no município, que sofreu grande abalo por causa da tragédia climática no começo de 2011, tornam-se impraticáveis e transformam cidades vizinhas como Bom Jardim, que cobra apenas 2% do imposto, muito mais atraentes.
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