sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Made in China


Toda vez que um brasileiro em passagem pela Alemanha ou outro país da Europa vai às compras, ouço sempre a mesma coisa: “nossa, como as coisas aqui são baratas!”. Referem-se principalmente a lojas de roupas bacaninhas como H&M e Zara, ou de móveis como a imbatível suíça Ikea.
Sim, realmente é tudo muito, muito barato. Às vezes nem eu mesma acredito que comprei uma mesa por 5 Euros ou um pacote de 6 meias por 1 Euro. É quase inacreditável, ou, melhor dizendo, barato demais para ser verdade. Ou socialmente responsável.
O varejo baratal tem uma razão de ser: é tudo fabricado na China. Ué, mas isso é óbvio. É, mas para quem está chegando nem tanto. Outro dia fizeram um auê no Brasil porque a Zara mantinha funcionários em regime de semi-escravidão em São Paulo. Pensei: “mas na China são bem uns milhões de escravos a serviço de possibilitar esse precinho camarada para todo mundo”. Mas na Europa todo mundo faz a festa sem mais peso na consciência, né?
Enfim, além de nada que é muito barato ser fabricado na Alemanha (senão não seria barato), para conseguir vender por aqueles preços inacreditáveis, a produção passa por um processo muito duvidoso de barateamento da matéria prima, mais precisamente, adição de substâncias tóxicas para um melhor aproveitamento da mesma e uma produção mais rápida e alheia a qualquer padrão ambiental.
Cheguei nesse assunto porque essa semana vi um programa interessante no canal alemão ZDF. Um engenheiro especializado em consultoria ambiental vai à casa de uma família para identificar com quais objetos contaminados produzidos na China eles convivem diariamente.
O resultado foi assustador: desde o piso onde as crianças brincam até a roupa preta que eles vestem. Nada está livre das malignas substâncias.
A solução seria um movimento que trouxesse de volta a produção aos países onde a mercadoria é vendida. E é aí que entra o princípio Cradle to Cradle (C2C), tido como a “nova revolução industrial”: uma produção sustentável onde o produto final seja totalmente reciclável. Mas a ideia do químico alemão Michael Braungart ainda permanece no plano da utopia...
Vou confessar que há um tempo achava toda essa preocupação um exagero. Afinal, crescemos fortes e sadios (?) sem nossos pais terem desenvolvido esse tipo de nóia. O problema é que para suprir a demanda atual de consumo da população - que aumentou em 2 bilhões desde que eu nasci - os chineses têm que fazer “milagre”.
E fazem mesmo. Só fiquemos ligados. Agora fiquei super “grilada” com qualquer roupa preta que visto, pois é a cor mais difícil de tingir. Se você comprou uma blusa preta por 2,99 Euros pode ter duas certezas: 1) as tintas usadas são da pior qualidade; 2) sua blusa é tóxica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário