segunda-feira, 8 de março de 2010

Quando elas chefiam eles, respeito e compreensão fazem a diferença



O G1 conversou com mulheres que chefiam equipes masculinas.
Ouvir o que o subordinado tem a dizer ajuda a comandar.

Gabriela Gasparin e Marta Cavallini Do G1, em São Paulo



As conquistas da mulher no mercado de trabalho tornaram mais recorrente um tipo de hierarquia corporativa que, em outros tempos e contextos, seria impensável: mulheres no comando de equipes formadas, na maioria, por homens.





Elianna Melo e seus "meninos": para a engenheira, a chave da boa convivência é o respeito (Foto: Daigo Oliva/G1)
A engenheira civil Elianna Melo, de 36 anos, chama seus funcionários de “meninos”. Ela trabalha com obras há 15 anos e é proprietária há cerca de dois anos de uma construtora de pequeno porte, especializada em acabamento fino de imóveis. Na sua empresa atual, a Série 7 Engenharia, localizada em Santo André, no ABC paulista, ela chefia 12 homens, entre encarregado, mestre de obras, pedreiros e ajudantes de pedreiros, mas já liderou 60 quando coordenou uma obra na Avenida Faria Lima. Para a engenheira, a chave da boa convivência é o respeito.


“Nunca tive dificuldade de me impor. Eu tenho o respeito deles porque eu respeito as pessoas. Eu não faço sozinha uma obra, cada um tem sua função, não existe essa história de engenheiro se achar melhor que os outros. Quem usa marreta é tão importante quanto quem coordena. Meus meninos sabem que eu penso assim, a gente entende que é uma equipe”, afirma. Elianna diz que é necessário ouvir os funcionários e trocar experiências para cumprir as metas.

Durante suas visitas às obras – ela está tocando quatro atualmente, todas em São Paulo – ela troca vestidos curtos e justos, as roupas com decote e o salto alto pela bota, o capacete e a calça jeans.

“Não é para ser dondoca, eles têm que sentir que você é um deles, aí eles veem que você faz parte da equipe, isso é importante, chama o cara para a responsabilidade e valoriza ao mesmo tempo o trabalho dele. Quando dá errado eu falo, quando dá certo eu também falo diretamente para quem executou o serviço”, diz.

E, segundo Elianna, sua equipe nunca a deixou mão. “Se precisar trabalhar à noite e no fim de semana eles estão dispostos”.





"Eu não faço sozinha uma obra, cada um tem sua função, não existe essa história de engenheiro se achar melhor que os outros", diz Elianna (Foto: Daigo Oliva/G1)
O marido de Elianna é engenheiro eletricista e, segundo ela, entende o fato de ela trabalhar sempre com equipes compostas só de homens. “Tem que pôr o pé no barro, na argamassa, eu subo no telhado, na caixa d’água, em andaime, e se precisar falo palavrão quando algo dá errado”, diz.

Sem preconceito
Aos 62 anos, Vera Gabriel está acostumada a trabalhar e chefiar equipes compostas por homens. Presidente da distribuidora de produtos químicos Carbono Química há cerca de dez anos, Vera conta que 80% do quadro de funcionários é formado por profissionais do sexo masculino.


Vera Gabriel comanda empresa que tem 80% dos funcionários homens. (Foto: Divulgação)
Logo abaixo dela estão cinco diretores, sendo que quatro são homens. Segundo a vice-presidente, a empresa possui muitos funcionários homens por conta do próprio ramo de atuação, composto majoritariamente por eles, como motoristas, carregadores, técnicos e engenheiros químicos.

A fatia de 20% representada pelas mulheres está principalmente nas áreas administrativas da empresa, como os setores de recursos humanos, marketing e vendas.

Vera afirma que nunca sofreu preconceito por ser uma mulher e estar no comando de uma empresa onde o sexo predominante é o masculino. Pelo contrário, para ela é muito mais fácil trabalhar com o homem do que com a mulher.

“Quem comanda precisa saber dar ordens. O homem aceita melhor receber ordens de uma mulher do que as próprias mulheres ”, diz. Ela revela, entretanto, que para dar ordens é preciso saber escutar. “Não funciono no esquema ‘eu mando você obedece’.”


Na opinião da presidente, as mulheres, apesar de serem mais persistentes, “travam” quando são conduzidas por outra mulher. “O homem é mais equilibrado nesse sentido”, diz.

Vera, entretanto, tem suas estratégias de comando: “O sucesso de trabalhar com homem é não interferir na forma como ele trabalha, deixar ele desenvolver. As interferências devem acontecer somente nos resultados”, indica. Para elas, as mulheres precisam de um acompanhamento maior, uma vez que são mais competitivas.

De qualquer forma, a presidente defende que uma empresa precisa de ambos os sexos para funcionar e ter um equilíbrio. “No meu modo de ver, um complementa o outro”, diz.

Evolução
Para Vera, a inserção cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho acontece paralelamente à participação cada vez maior dos homens nas atividades domésticas. “Hoje vejo meu filho e meu genro ajudando as mulheres no lar. Os homens vão se acostumando a trabalhar com as mulheres e não estranho quando isso acontece também na empresa”, afirma.


Ela é formada em direito e assumiu a presidência da empresa após a morte de seu pai. Vera afirma que, no início da carreira, trabalhava em seu escritório de advocacia. Depois da aquisição da empresa por seu pai, há cerca de 30 anos, Vera passou a atuar nos dois ramos, o que faz até hoje.

Sem diferenças



Para Denise, não há diferença entre trabalho dos homens e das mulheres. (Foto: Divulgação)
Para Denise Romanelli, de 42 anos, que também comanda uma equipe composta majoritariamente por homens, não há diferença entre o trabalho deles e o delas. Ela é diretora financeira do Grupo GR, empresa especializada em segurança.


“No mundo atual não tem mais essa diferença. Depende da postura que a mulher se coloca. Independente de ser mulher ou homem, são profissionais”, diz. Ela complementa que, talvez, a única diferença que pode haver entre ambos está na questão física.


Romanelli diz acreditar que os homens até preferem trabalhar com mulheres, pelo fato de elas terem visões diferentes em determinadas situações, por serem mais “femininas”.

Fonte:g1.globo.com

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