Sim, nós estamos em pleno verão do ano 2011. Mas você não leu errado e nem a equipe do Moda trocou as datas: o mundo fashion funciona assim mesmo, com tendências de estações seguintes previstas até dois anos antes. Um dos mais esperados eventos da indústria têxtil é a Prémière Vision, feira francesa que dita as principais tendências, ideias e tecidos que estarão nas ruas e passarelas um ano depois. A prima brasileira, que existe há três edições e chama-se Prémière Brasil, começou na quarta (19) e terminou na quinta (20). Nela, 108 expositores nacionais e internacionais mostram seus tecidos, padronagens, fios, fibras e acessórios aos designers, fabricantes e lojistas de todo o País.
Dentro da feira, acontece a Conferência de Moda, reunião em que a diretora de moda Pascaline Wilhelm apresenta os resultados de reuniões entre especialistas nos países onde a moda é mais tradicional no mundo. Duas vezes ao ano, eles se encontram para fazer brainstormings, cruzar referências e decidir o que será tendência na próxima estação. Muita responsabilidade, né? Cada edição da feira tem sua palestra especialmente voltada ao país em que é realizada, em termos de linguagem e principais destaques. E, na tarde dessa quinta-feira, foi a vez de São Paulo saber, de antemão, o que está por vir.
Podemos nos preparar para um verão opaco, com uma cartela de cores mais sóbria e sem referência a tonalidades néon, com tecidos inovadores e que misturam elementos naturais e sintéticos. A palavra de ordem, aliás, é dicotomia: 8 e 80 mesclam-se nas tendências sem passar pelo meio. Isso quer dizer que o tecido é duro ou extremamente macio; a cor suave vem junto com as tonalidades mais fortes e o que interessa é causar impressões inovadoras e surpreendentes na hora de se vestir. “É uma estação grandiosa. Não queremos repetir os erros do passado, mas cometer novos erros para gerar criatividade”, declara Pascaline.
O verão 2012 foi dividido em três temáticas centrais, cada uma com suas especificidades. Embora diferentes, elas conversam entre si e nos dão a sensação de unidade, de todo. Tanto é que, em vários momentos da apresentação, o público demonstrou sentir que já tinha ouvido aquilo antes. Vamos às principais antecipações:
Perspectivas É o primeiro tema elaborado pela equipe Prémière Vision e se concentra na linha de moda predominante, a mais clássica e que tem maior poder de alcance. A cartela de cores vem em três tons principais: ash lavender (tonalidades pastéis) speed orange (um laranja forte e várias de suas variações) e green swam (tons água, começando pelo verde e indo até o azul). Trata-se, na verdade, de semitons, cores pálidas, mas não tão pálidas, naturais, mas não tão claras; escuros não tão escuros. Pascaline esclarece: “Todas as cores que vocês veem aqui não existem, nós as produzimos para criar os tons exatos que buscamos.” É por isso que, para adquirir a cartela, o visitante precisa desembolsar R$ 345. Fotos de divulgação não são permitidas.
A transparência, algo que já se vê nas passarelas há algumas estações e que teve destaque no Fashion Rio, aparece também de maneira mais sóbria. Não é usada para sensualizar um look, e sim para criar sobreposições volumosas e elegantes em tecidos que devem causar o efeito do papel vegetal. “A estação é conceitual e intelectual, nada vem muito óbvio”, demonstra Pascaline. Durante o vídeo de apresentação do verão 2012, só são utilizadas frases com duas palavras antagônicas para descrever as ideias: brutos civilizados, simplicidade elaborada, texturas cuidadas, desequilíbrios perfeitos, misturas caóticas. Plástico lipstick está entre as inovações nada básicas que o tema sugere. Algodão, poliamida e piqués macios são os tecidos mais presentes.
Para a moda masculina, Pascaline já começa dizendo: “Camisa passada é algo que simplesmente não é mais possível. Procuramos utilizar, agora, tecidos mais despojados, que constituam um formal casual.” Denim com viscose e impermeáveis leves formam um estilo bussiness descontraído – porque o homem, principalmente, liga a ideia de formalidade a trabalho, e não lazer. Nas cores, tons cáquis e cinzas são suavizados com rosas claros e azuis. O turquesa aparece em camisas, além de azuis marinhos lavados e atenuados.
A moda praia vem em tonalidades radiantes, luminosas e multicoloridas, porém opacas. Ao contrário deste verão, em 2012 não se verá brilho nas praias do Brasil. Transparências como vidros também aparecem em duplas camadas, e os tecidos mais usados são aqueles de secagem rápida. Nas estampas, jogos de cheio e vazio, positivo e negativo – de novo, a presença constante dos paradoxos.
Open Mind É a temática que o pessoal da Prémière Vision utilizou para divagar um pouco mais. “Aqui, as pessoas podem misturar sem medo de que suas combinações pareçam fora de gosto. Há receitas de estilo que funcionam bem em qualquer parte do mundo, mas é preciso ousar. A moda não é uma certeza”, diz Pascaline. Ela parece nostálgica. Depois, me conta que tem inveja do espaço que existe no Brasil para criação e invenção. “É como se o País ainda estivesse no início do caminho, então ainda há muito por fazer, não existe aquele rigôr e medo de errar que se vê na Europa. Além do mais, o que é certo para lá pode não funcionar para cá”, explica.
Neste subtema, então, encontra-se uma moda divertida, quase engraçada. Associações dissonantes geram um estilo mais eclético. Cores fortes em fundos crus, fios visíveis, tecido de gaze mais seda e cores que parecem esmalte de unha. Estampas étnicas e primitivas também continuam – mas atenção. Não se trata de décor africano, mexicano ou indígena. É tudo misturado, sem fazer referência clara a um local específico.
Para o homem, amarelos mais ácidos ou em tom de mel; roupas mais visuais em tecidos com degradês. “É um aventureiro mais limpinho”, diz Pascaline, para a gargalhada de todos. Quando se fala em beachwear e sportswear no Open Mind, deve-se pensar em estampas de flores, bandeiras, listras e xadrez; malhas ultrastretch e acúmulo de acessórios também estão valendo. As cores são todas mais lavadas.
Sense & Essence É o lado ecologicamente correto da moda verão 2012. “Falamos em um consumo mais personalizado, roupas ajustadas à pessoa, para evitar desperdícios”, explica Pascaline, apesar de o discurso parecer utópico quando se pensa em uma moda prêt-à-porter, feita em larga escala. Mas a ideia é a busca ao essencial, ao bem-estar orgânico e ao ecofriendly. Nada disso é novidade, ela deixa claro, mas diz que essas podem ser consideradas “soluções verdadeiras entre as várias respostas que existem”.
Os tecidos, então, são bastante refinados e feitos para não precisar de ferro de passar. Lã, seda e algodão em estampas de jardins, flores, pássaros e borboletas dão um ar ingênuo às coleções. Para os homens, muito linho dará um toque fresco e seco às peças, sempre com elegância. A cor índigo, que se parece com o azul anil, é a mais forte da temática. Nas roupas de praia e esportivas, cores mais suaves, em tons de aquarela. Superposições de quente e frio em tecidos de viscose e gabardines mais leves também fazem parte da ideia.
“É preciso ver mais longe para entender a estação que está por vir”, afirma Pascaline. Vamos esperar os resultados práticos nas próximas semanas de moda!
FONTE: O ESTADÃO
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