Aqui está uma situação que você já passou milhares de vezes: experimentar uma roupa antes de comprá-la. No que você vai prestar atenção? Se ela está dentro dos padrões ditados pelas tendências da moda, se as cores ficam bem em você e se o caimento no corpo é perfeito, certo? Essas mesmas preocupações foram levadas em conta pelo estilista na hora de desenvolver a peça. Só que com um detalhe básico: ele ou ela imaginou como aquela bela roupa ficava em você de pé. Agora pense bem se esse caimento é o mesmo se você passa sua vida sentado. Ou caminhando com a necessidade de apoio. A resposta é, provavelmente, não.
Esse tipo de pensamento é o que rege a criação de quem trabalha com moda ergonômica e busca soluções em design e engenharia voltadas para pessoas que apresentem algum tipo de paralisia parcial no corpo ou até mesmo deficiência visual. "Não é a moda que diverge e, sim, a forma como ela é pensada, as técnicas de construção de uma peça. Ela tem que ser elaborada em cima de outra realidade, para no final você não notar que ela é diferente e principalmente deve dar uma qualidade melhor e um aumento de autoestima no indivíduo portador de deficiência", afirmou Fátima Grave, professora do Centro Universitário Belas Artes e pesquisadora na área de Modelagem Ergonômica junto à Fundação Selma, uma ONG de apoio a deficientes.
Uma das maiores especialistas nesta área no Brasil, Fátima apresentou sua coleção em um desfile realizado durante a 9ª Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação e Inclusão em São Paulo, que contou ainda com a participação do ator Ricardo Ciciliano, o professor Serjão de Malhação, da TV Globo, e um dos voluntários mais ativos da Fundação Selma. Desenvolver esse tipo de trabalho em moda não é baseado somente em intuição e, sim, em normas da física. "Tudo está de acordo com as três leis de Newton. O indivíduo fica de pé porque sofre um empuxo da natureza. A sua roupa também sofre a ação da gravidade só que o caimento dela é dominado também pelo corpo. Quando você trabalha com alguém parcialmente paralisado, tem de fazer essa leitura e buscar onde está o ponto de gravidade do corpo, para que lado ele pende, e para que lado o tecido é dominado. Ou seja, se eu descubro pontos gravitacionais, consigo alterar o caimento da peça porque eu estou agindo contra a natureza em busca de um casamento perfeito", disse Fátima.
A estilista está fazendo uma parceira com a empresa portuguesa Weadapt, criada em 2005 e voltada para a moda inclusiva. Um de seus representantes e professor da Universidade de Minho, Miguel Ângelo Carvalho, explicou como essa ciência funciona na prática: "Pensamos muito na funcionalidade. Por exemplo, não há sentido em um cadeirante usar calças com bolsos traseiros, porque não tem utilidade. O comprimento de um paletó ou blaser, por outro lado, não é o mesmo de uma peça comum, porque a pessoa fica sentada o tempo todo. Isso gera desconforto para ela. Da mesma maneira como você não veste uma roupa adulta tamanho G em uma criança, tem que adequar a moda a uma pessoa com deficiência."
Outro lado interessante pesquisado pelos estilistas é a autonomia de quem vai por e tirar aquela peça de roupa. Novas tecnologias são estudadas para facilitar abotoamento, zíperes e soluções de abertura nas roupas, mas que nunca sejam visíveis ao olhar. "O deficiente não quer ser diferente. A moda é igual para todos", disse Miguel. E a inspiração vem justamente do contato com os portadores de deficiências, médicos, fisioterapeutas e centros de reabilitação. São eles quem informam o que é preciso fazer para que a vida seja mais fácil, confortável e, porque não dizer, mais bonita.
Grande mercado, nenhuma oferta
O Brasil possui cerca de 30 milhões de pessoas portadoras de alguma deficiência física, segundo dados oficiais. E apesar deste enorme mercado potencial (que atinge também familiares), não há oferta dessa moda inclusiva em nenhuma grande rede brasileira. Fátima e Miguel estão trazendo a Weadapt para cá ainda este ano, com vendas pela internet, mas buscam criar parcerias com lojas que entendam a seriedade deste trabalho e que se disponham a investir em uma coleção voltada a deficientes.
E em tempos onde responsabilidade social se tornou uma forte ferramenta de marketing e imagem empresarial, e muitas vezes é confundida com plantar árvores, é de se estranhar que até agora ninguém tenha se manifestado a favor desse segmento. A edição brasileira da Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação e Inclusão é a terceira maior do mundo e foi a oitava vez que Fátima mostrou sua coleção ao público. Grandes marcas da indústria automobilística como Honda, Toyota, Volkswagen e Fiat marcaram presença no evento. Está realmente faltando alguma da área de vestuário. A moda para deficientes trabalha o que é bom para os olhos, seguindo as tendências do momento e ainda com técnicas do corpo e pode ser uma ferramenta de reabilitação de pessoas. Mais "vendedor" e "marqueteiro" que isso, impossível.
Serviço
A Fundação Selma é uma instituição sem fins lucrativos e não só aceita doações como trabalho voluntário, não importa qual seja a sua especialidade. Para mais informações, ligue para (11) 5034.1566.
Esse tipo de pensamento é o que rege a criação de quem trabalha com moda ergonômica e busca soluções em design e engenharia voltadas para pessoas que apresentem algum tipo de paralisia parcial no corpo ou até mesmo deficiência visual. "Não é a moda que diverge e, sim, a forma como ela é pensada, as técnicas de construção de uma peça. Ela tem que ser elaborada em cima de outra realidade, para no final você não notar que ela é diferente e principalmente deve dar uma qualidade melhor e um aumento de autoestima no indivíduo portador de deficiência", afirmou Fátima Grave, professora do Centro Universitário Belas Artes e pesquisadora na área de Modelagem Ergonômica junto à Fundação Selma, uma ONG de apoio a deficientes.
Uma das maiores especialistas nesta área no Brasil, Fátima apresentou sua coleção em um desfile realizado durante a 9ª Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação e Inclusão em São Paulo, que contou ainda com a participação do ator Ricardo Ciciliano, o professor Serjão de Malhação, da TV Globo, e um dos voluntários mais ativos da Fundação Selma. Desenvolver esse tipo de trabalho em moda não é baseado somente em intuição e, sim, em normas da física. "Tudo está de acordo com as três leis de Newton. O indivíduo fica de pé porque sofre um empuxo da natureza. A sua roupa também sofre a ação da gravidade só que o caimento dela é dominado também pelo corpo. Quando você trabalha com alguém parcialmente paralisado, tem de fazer essa leitura e buscar onde está o ponto de gravidade do corpo, para que lado ele pende, e para que lado o tecido é dominado. Ou seja, se eu descubro pontos gravitacionais, consigo alterar o caimento da peça porque eu estou agindo contra a natureza em busca de um casamento perfeito", disse Fátima.
A estilista está fazendo uma parceira com a empresa portuguesa Weadapt, criada em 2005 e voltada para a moda inclusiva. Um de seus representantes e professor da Universidade de Minho, Miguel Ângelo Carvalho, explicou como essa ciência funciona na prática: "Pensamos muito na funcionalidade. Por exemplo, não há sentido em um cadeirante usar calças com bolsos traseiros, porque não tem utilidade. O comprimento de um paletó ou blaser, por outro lado, não é o mesmo de uma peça comum, porque a pessoa fica sentada o tempo todo. Isso gera desconforto para ela. Da mesma maneira como você não veste uma roupa adulta tamanho G em uma criança, tem que adequar a moda a uma pessoa com deficiência."
Outro lado interessante pesquisado pelos estilistas é a autonomia de quem vai por e tirar aquela peça de roupa. Novas tecnologias são estudadas para facilitar abotoamento, zíperes e soluções de abertura nas roupas, mas que nunca sejam visíveis ao olhar. "O deficiente não quer ser diferente. A moda é igual para todos", disse Miguel. E a inspiração vem justamente do contato com os portadores de deficiências, médicos, fisioterapeutas e centros de reabilitação. São eles quem informam o que é preciso fazer para que a vida seja mais fácil, confortável e, porque não dizer, mais bonita.
Grande mercado, nenhuma oferta
O Brasil possui cerca de 30 milhões de pessoas portadoras de alguma deficiência física, segundo dados oficiais. E apesar deste enorme mercado potencial (que atinge também familiares), não há oferta dessa moda inclusiva em nenhuma grande rede brasileira. Fátima e Miguel estão trazendo a Weadapt para cá ainda este ano, com vendas pela internet, mas buscam criar parcerias com lojas que entendam a seriedade deste trabalho e que se disponham a investir em uma coleção voltada a deficientes.
E em tempos onde responsabilidade social se tornou uma forte ferramenta de marketing e imagem empresarial, e muitas vezes é confundida com plantar árvores, é de se estranhar que até agora ninguém tenha se manifestado a favor desse segmento. A edição brasileira da Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação e Inclusão é a terceira maior do mundo e foi a oitava vez que Fátima mostrou sua coleção ao público. Grandes marcas da indústria automobilística como Honda, Toyota, Volkswagen e Fiat marcaram presença no evento. Está realmente faltando alguma da área de vestuário. A moda para deficientes trabalha o que é bom para os olhos, seguindo as tendências do momento e ainda com técnicas do corpo e pode ser uma ferramenta de reabilitação de pessoas. Mais "vendedor" e "marqueteiro" que isso, impossível.
Serviço
A Fundação Selma é uma instituição sem fins lucrativos e não só aceita doações como trabalho voluntário, não importa qual seja a sua especialidade. Para mais informações, ligue para (11) 5034.1566.
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