Estou no mesmo emprego há sete anos e nos últimos dois tenho me sentido cansado, entediado e estressado. A paixão que eu costumava ter pelos desafios e tarefas do dia a dia já não existe mais e aos poucos tenho me tornado cínico e desinteressado em relação aos meus pares e a minha equipe. Sinto que o problema é interno e que, se eu mudar de emprego, vou acabar levando isso para a nova empresa. Não cogito me aposentar, pois meus filhos ainda estão na escola e não posso abrir mão do salário. Como recuperar o entusiasmo pela minha carreira novamente ou, pelo menos, fazer com que o trabalho fique mais tolerável?
Diretor de indústria têxtil, de 49 anos de idade
Resposta:
Entusiasmo, na origem grega da palavra, significa "transporte divino". Num sentido mais místico, também quer dizer entrar em contato com Deus ou "sentir a presença" d'Ele em si. Aos que preferem uma acepção puramente racional, isso equivale a estar conectado com a nossa essência e com a do ambiente em que estamos. Por fim, segundo os dicionários, entusiasmo ainda pode ser definido como paixão, inspiração, veemência, vigor, ímpeto, prazer, admiração, arrebatamento ou alegria intensa. São esses sentimentos que movem carreiras, empresas e toda forma de desenvolvimento. O salário justo (no sentido de adequado e não de "apertado") é o reconhecimento a quem dá o melhor de si. É, portanto, a consequência e não o motivador de uma realização. Ou, pelo menos, devemos buscar que seja assim. A demissão, por outro lado, é o efeito - na maior parte das vezes - de um desligamento entre as causas que unem o indivíduo e a organização. Ela pode ser voluntária ou inconsciente, mas sempre segue uma lógica.
Aconselho você a pesquisar e a refletir sobre as razões que o levaram a mudar a forma como vê o seu trabalho. Você quer recuperar a "paixão" que teve pelos "desafios" dos primeiros cinco anos no emprego atual. Em seguida, reconhece que o problema não está na empresa, mas em você mesmo. Essa autocrítica (não culpar os outros pelas suas insatisfações) já é um bom ponto de partida. O que mudou não foi sua paixão pelos desafios, mas sim a falta destes. Pode parecer óbvio, mas vale esclarecer: quando uma missão é executada com sucesso, as próximas, se forem de nível equivalente, deixam de ser um desafio e se tornam rotina.
Por mais que o instinto de sobrevivência leve todo (ou quase todo) ser humano a buscar segurança e estabilidade, a mesmice de uma rotina desmotiva qualquer um. E nos dias de hoje, em que as mudanças rápidas passaram a ser, paradoxalmente, uma constante no mundo dos negócios, se acomodar é um veneno. Portanto, é o caso de se questionar: onde e por que eu me acomodei? Será que descuidei de minha atualização profissional e, com isso, deixei de ser considerado pela empresa para projetos novos?
Sugiro que você converse com as pessoas com quais mais se relaciona no trabalho; do chefe aos subordinados, passando pelos pares, e peça que eles digam, sinceramente, como lhe veem. Evite julgar os outros ou a si com rigor por conta das opiniões críticas, bem como se envaidecer com elogios. Concentre-se em entender seus pontos fortes e o ainda que pode desenvolver. Esse retrato pode deixar mais claro quais são as causas de sua desmotivação e como combatê-las. E, por favor, jamais pense em tornar seu trabalho apenas "tolerável". Busque recuperar aquilo que havia, e ainda há, de "divino" e apaixonante dentro de você.
Vicky Bloch é professora do programa de educação continuada da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e sócia-fundadora da Vicky Bloch Associados
Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. As perguntas devem ser enviadas para:
E-mail: diva.executivo@valor.com.br
Fonte:valoronline
Diretor de indústria têxtil, de 49 anos de idade
Resposta:
Entusiasmo, na origem grega da palavra, significa "transporte divino". Num sentido mais místico, também quer dizer entrar em contato com Deus ou "sentir a presença" d'Ele em si. Aos que preferem uma acepção puramente racional, isso equivale a estar conectado com a nossa essência e com a do ambiente em que estamos. Por fim, segundo os dicionários, entusiasmo ainda pode ser definido como paixão, inspiração, veemência, vigor, ímpeto, prazer, admiração, arrebatamento ou alegria intensa. São esses sentimentos que movem carreiras, empresas e toda forma de desenvolvimento. O salário justo (no sentido de adequado e não de "apertado") é o reconhecimento a quem dá o melhor de si. É, portanto, a consequência e não o motivador de uma realização. Ou, pelo menos, devemos buscar que seja assim. A demissão, por outro lado, é o efeito - na maior parte das vezes - de um desligamento entre as causas que unem o indivíduo e a organização. Ela pode ser voluntária ou inconsciente, mas sempre segue uma lógica.
Aconselho você a pesquisar e a refletir sobre as razões que o levaram a mudar a forma como vê o seu trabalho. Você quer recuperar a "paixão" que teve pelos "desafios" dos primeiros cinco anos no emprego atual. Em seguida, reconhece que o problema não está na empresa, mas em você mesmo. Essa autocrítica (não culpar os outros pelas suas insatisfações) já é um bom ponto de partida. O que mudou não foi sua paixão pelos desafios, mas sim a falta destes. Pode parecer óbvio, mas vale esclarecer: quando uma missão é executada com sucesso, as próximas, se forem de nível equivalente, deixam de ser um desafio e se tornam rotina.
Por mais que o instinto de sobrevivência leve todo (ou quase todo) ser humano a buscar segurança e estabilidade, a mesmice de uma rotina desmotiva qualquer um. E nos dias de hoje, em que as mudanças rápidas passaram a ser, paradoxalmente, uma constante no mundo dos negócios, se acomodar é um veneno. Portanto, é o caso de se questionar: onde e por que eu me acomodei? Será que descuidei de minha atualização profissional e, com isso, deixei de ser considerado pela empresa para projetos novos?
Sugiro que você converse com as pessoas com quais mais se relaciona no trabalho; do chefe aos subordinados, passando pelos pares, e peça que eles digam, sinceramente, como lhe veem. Evite julgar os outros ou a si com rigor por conta das opiniões críticas, bem como se envaidecer com elogios. Concentre-se em entender seus pontos fortes e o ainda que pode desenvolver. Esse retrato pode deixar mais claro quais são as causas de sua desmotivação e como combatê-las. E, por favor, jamais pense em tornar seu trabalho apenas "tolerável". Busque recuperar aquilo que havia, e ainda há, de "divino" e apaixonante dentro de você.
Vicky Bloch é professora do programa de educação continuada da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e sócia-fundadora da Vicky Bloch Associados
Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações. As perguntas devem ser enviadas para:
E-mail: diva.executivo@valor.com.br
Fonte:valoronline
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