O diretor de vendas e marketing da Coats Corrente, Antônio Carlos Longuini, não encontra uma sala de reuniões livre para a entrevista com o Valor. "Mas é por um bom motivo: algumas salas foram realocadas para receber novas áreas de negócio", diz o executivo que é prata da casa, há 31 anos na empresa. Há mais de 100 anos, a fabricante inglesa de linhas e zíperes ocupa o mesmo espaço no bairro do Ipiranga, na zona sul de São Paulo, mas os últimos tempos têm sido especialmenteagitados.
Pressionada pela concorrência dos importados têxteis chineses - que gera redução das encomendas das confecções locais -, a antiga Linhas Corrente tenta se reinventar. Nos últimos três anos, investiu US$ 150 milhões em tecnologia, marketing e produção. Hoje, é possível encontrar produtos da Coats Corrente em artigos que vão muito além das linhas para costurar ou dos fios para tricotar um cachecol: desde absorventes íntimos internos e suturas usadas por cirurgiões, passando por uniformes de bombeiro e coletes à prova de bala, até linhas que percorrem os cabos de fibra óptica, sua mais nova investida.
"O segmento de especialidades, que reúne os novos usos da linha, ainda representa pouco (10%) na receita da divisão industrial, mas é nesse segmento que está o maior potencial de crescimento da empresa", diz Longuini, que não revela o faturamento. Em especialidades, estão ainda as linhas aplicadas em calçados, móveis, estofados (inclusive automóveis), saquinhos de chás e encadernação de livros.
A grande aposta está nas linhas especiais para altas temperaturas, usadas em uniformes e acessórios não só de bombeiros, como de profissionais que trabalham em redes elétricas e nas indústrias siderúrgica e petrolífera. "Infelizmente devido ao aumento da violência, há também uma demanda crescente pela linha para coletes à prova de bala", diz Longuini, explicando que, nesse produto, é o emaranhado da linha que retém o projétil. A Inbratêxtil, do grupo de segurança Inbra, é um dos clientes dessa linha especial.
Depois de China, Índia e Estados Unidos, o Brasil é o maior mercado da multinacional inglesa Coats, que está presente em 67 países. Mas, com a crise, o Brasil não tende a superar o mercado americano? "Lá a receita é maior porque eles só produzem especialidades, não fabricam linhas ou zíperes, que representam 70% e 20%, respectivamente, das nossas vendas", afirma. No ano passado, a receita global da companhia caiu 14%, chegando a US$ 1,4 bilhão. "Mas este ano vamos retornar ao patamar de US$ 1,6 bilhão", diz. No país, seus principais concorrentes são a Bonfio (em linhas) e a YKK (em zíperes).
Enquanto busca a diversificação em produtos de maior valor agregado, a Coats Corrente procura adotar uma nova postura em relação às confecções. Entre elas, grifes como Ellus, M. Officer, Forum e as fabricantes Hering, Marisol e Malwee. A empresa presta consultoria técnica aos clientes, para aumentar a produtividade em pelo menos 5%, e está presente desde o desenvolvimento de produto, na escolha de cores e materiais adequados para cada tipo de tecido. "Antes, nossa atuação se resumia à área técnica", diz Longuini.
Para fazer parte do mundo fashion, vale até ir às salas de aula. A empresa mantém parceria com algumas das maiores faculdades de moda do país. Em São Paulo, na Santa Marcelina, FAAP e Senac, foi instalada uma Sala Coats, contendo boa parte do portfólio da empresa. Lá, os futuros estilistas têm à disposição linhas, zíperes, entretelas e outros aviamentos para criação. A Coats também foi a patrocinadora da sétima edição do concurso de moda da FAAP e vai bancar a viagem de uma semana a Paris da aluna vencedora, que receberá ainda € 1.000 de prêmio da fabricante. "A partir de 2011, vamos premiar o melhor aluno do curso de graduação de moda da FAAP, que vai conhecer as fábricas e os clientes da Coats na Europa".
Existem duas grandes divisões na Coats Corrente: a industrial e a doméstica, onde estão as tradicionais linhas para tricô, crochê e bordados. Cada uma delas responde por cerca de 50% da receita, mas os passos da divisão industrial seguem mais rápidos. Há cerca de dez anos, a participação da divisão doméstica era de 60%. Isso não significa que a empresa esteja deixando de lado as fieis consumidoras das linhas de Anchor, Camila, Cisne e Esterlina, seus produtos para tricô e crochê. As marcas vêm sendo anunciadas pela apresentadora Ana Maria Braga, no programa Mais Você, da Rede Globo.
"Quando há apresentação de novos produtos nas ações de merchandising, as ligações congestionam o nosso Serviço de Atendimento ao Consumidor", diz a supervisora de marketing, Izabel Gallina. Sinal que mesmo a despeito de toda a mudança de comportamento das últimas décadas, o sexo feminino continua fazendo jus ao slogan da divisão de produtos domésticos: "Coats Corrente o ponto forte das mulheres".
Fonte:valoronline.com.br
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