Mariana Dijkstra, estilista da Valisere, aposta em modelagem que lembra o passado, mas em tons cítricos, e diz que há evolução nas matérias-primas, com o uso de microfibras ainda mais finas, de toque gelado: "Elas dão segurança e leveza"
A roupa íntima quer aparecer. Em todos os sentidos. Além da tendência vigente que valoriza peças de apelo "fashion", o segmento de cuecas e lingeries vive um momento de aumento de consumo e investimento em lojas-conceito. Tudo para deixar mais visível uma moda que nasceu para ficar escondida, mas que não se contenta com isso.
O ano passado o setor cresceu e neste ano as vendas continuam aquecidas. "2010 foi o ano da reviravolta. Desde o início da década que essa indústria não vendia tanto, para homens e mulheres", atesta Denise Areal, diretora de marketing e estilo da fabricante de lingeries Duloren. Em 2009, quando o PIB do país encolheu, o setor produziu 960 milhões de peças e faturou R$ 5 bilhões. Em 2008 foram 835 milhões de peças com faturamento de R$ 4,5 bilhões. Ainda não há projeções fechadas para este ano, mas as perspectivas são de continuar crescendo.
Neste ano, a Duloren investiu R$ 6 milhões em novas máquinas e aumentou em 10% a produção, que é de 1,2 milhão de peças, por mês. As razões para isso foram, por um lado, o aumento da renda das classes de menor poder aquisitivo e, por outro, um certo otimismo que tomou conta dos consumidores. "As mulheres superaram a crise e querem ser felizes com seus companheiros. Os homens também passaram a enxergar a roupa íntima como uma forma de sedução", diz Denise.
Da Valisere, o sutiã custa R$ 56 e a calcinha, R$ 24
Por conta disso, a Duloren decidiu entrar também com força no segmento de cuecas. A primeira iniciativa se deu no final de 2008, de forma ainda tímida. "Investimos em maquinário para isso e queremos entrar com força nesse segmento, no ano que vem."
O aumento do consumo também motivou a Lupo a investir numa nova cadeia de lojas. A Lupo Lingerie, que inaugura sua primeira unidade em dezembro, na rua Oscar Freire, no bairro dos Jardins, em São Paulo. Diferente das lojas tradicionais da Lupo, focadas em meias, as novas butiques vão priorizar o "underwear" feminino (80% dos produtos) e masculino. A ideia é expandir a Lupo Lingerie, por meio de franquias, e chegar a 50 lojas em 2011. Em junho do ano que vem a empresa também abre outra bandeira, a Lupo Esporte, com previsão para chegar a dez pontos.
Nos Estados Unidos, Victoria's Secret aposta numa linha básica e confortável
Em termos de estilo, a roupa íntima passa por uma revolução silenciosa. Pelo lado feminino, é hora de cobrar beleza e funcionalidade numa mesma peça. Os tempos em que calcinhas de rendas eram lindas de ver e desconfortáveis de vestir acabaram. O básico que resolve, mas não enfeita também perdeu terreno. As consumidoras querem lingeries que unam praticidade com tendências de moda. "As cores da roupa íntima devem seguir as da estação", diz Mariana Dijkstra, estilista da Valisere. Os estilos também acompanham o que diz as passarelas. "É o momento de referências à antigamente, com muito corpete, cinta-liga e top de renda", afirma Mariana.
Amarelo cítrico da Mash é tendência e é vendido por R$ 19,90
Mas esqueça o ar romântico: as rendas até estão em alta, mas em tons fortes de neon. "A lingerie ficou transgressora e agora é feita para aparecer sob a roupa." Nas matérias-primas também houve evolução, com microfibras ainda mais finas e com o toque gelado. "Elas dão segurança e leveza", diz Mariana.
Em julho, a Valisere inaugurou sua primeira loja-conceito, na rua Oscar Freire, em São Paulo. Os planos da empresa, que pertence ao grupo Rosset, são de abrir 300 lojas, entre franquias e próprias, em cinco anos.
Pelo lado dos homens, o aumento de consumo tem se dado nas peças mais elaboradas, com malhas tecnológicas, estampas e cores vivas. O modelo "slip" - a cueca tradicional, mais estreita dos lados - perdeu espaço para os modelos "sungão" e "boxer".
A cueca branca da Zorba, de algodão orgânico, custa R$ 24
A mudança se deu impulsionada, principalmente, pelo consumidor mais jovem e pelas mulheres. "Elas ainda são responsáveis por 75% das vendas de cuecas", diz Rosana Lourenço, gerente de marketing da Zorba. E elas preferem cuecas mais moderninhas como a "boxer" - que lembra uma bermuda - cujas vendas cresceram 17%, de dois anos pra cá.
Na Mash, as vendas da "boxer" representam 60% do faturamento. Na Lupo, o modelo "slip" era campeão na preferência dos consumidores, há cinco anos, chegando a 70% das vendas. "Hoje, o modelo tradicional não chega nem a 30%, diz Valquírio Cabral Júnior, diretor comercial da Lupo, empresa que atualmente produz 5 milhões de cuecas, por ano, mas que pretende chegar a 20 milhões de unidades, em 2011. Segundo Cabral Júnior, o faturamento da Lupo vai chegar a R$ 570 milhões neste ano, "e a R$ 1 bilhão, em 2013."
A Mash usa tecido feito de fibra de celulose, o modal: R$ 25,90
Cores fortes e padrões diferentes também já não assustam os homens, comemoram os fabricantes. "Entre as cores de cuecas que mais vendem estão o roxo, o azul e o verde-militar", diz Jonas Waisberg, diretor comercial da Mash. Estampas de listras, xadrez e bolinhas também agradam.
Com relação aos tecidos, o modal, feito com fibra derivada da celulose, está em alta. "O modal veio substituir o algodão que aumentou muito de preço", diz Waisberg. Na Lupo, o modal também é o carro-chefe das vendas, graças ao conforto que proporciona ao usuário. Mas isso, diz Cabral Júnior, da Lupo, beneficia principalmente as mulheres. "Foi por exigência delas que as cuecas mudaram."
Listras: Mash diz que estampa não assusta mais o consumidor
Para alguns fabricantes, é na capacidade de oferecer atributos que está o segredo do sucesso de uma roupa íntima, atualmente. Por atributos entenda-se o poder de diminuir medidas e deixar o corpo com formas mais harmônicas. "A nossa linha de lingeries que modelam o corpo, chamada de 'Shaping', representava 10% das vendas, há três anos. Hoje, ela chegou a 30% do faturamento", diz Denise, da Duloren.
Para a Plié, o foco para 2011 é a linha de compressão, sem costura. A empresa contratou a modelo americana Tara Lynn - símbolo da beleza "tamanho extragrande" do momento - para ser estrela de sua campanha mais recente. Valorizando uma beleza considerada fora dos padrões, a ideia da Plié é mostrar que seus produtos podem amenizar as curvas. "O crescimento das vendas da nossa linha 'Control' foi de 15%, em três anos", diz Ron Horovitz, diretor da Plié. A "Control", que utiliza microfibra com elastano "com memória" (que modela o corpo, sem apertar demais), aumentou sua gama de produtos de nove para 21 modelos.
Fonte:valoronline.com.br
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