A barata mão de obra chinesa está chegando ao fim, e o mundo, que se acostumou a tirar proveito disso, terá que se adaptar aos novos
Fábrica do MacBook em Xangai: funcionários da Foxconn tiveram reajuste salarial de 25% este ano. Custos na China não param de crescer, mas isso gera novas oportunidades
São Paulo - Faz já alguns anos, os chineses são responsáveis por produzir bens desejados e exportados efetivamente para todo mundo. iPhones, iPads, tênis de marca e muitos outros itens saem de lá para as mãos de ávidos consumidores nos quatro cantos do globo. Para as grandes indústrias internacionais, a China é um local impossível de ignorar, com concentração de mão-de-obra barata por metro quadrado superior a qualquer outro lugar do planeta.
Mas a má-notícia para alguns é que os chineses não querem mais apenas fabricar aparelhos de todo tipo: querem tê-los. É sobre este cenário e como se adaptar a ele o livro “The End of Cheap China: Economic and Cultural Trends That Will Disrupt the World” (O Fim da China barata - Tendências econômicas e culturais que vão abalar o mundo, em tradução livre), lançado em março deste ano nos Estados Unidos e ainda sem previsão no Brasil.
Para o autor Shaun Rein, Manager Director da empresa de consultoria e pesquisa China Market Research Group, de Shangai, o papel que o país desempenhou nas últimas décadas se encontra em plena reversão. “Em vez de ser uma força deflacionária na economia global, a China vai exportar inflação para o resto do mundo”, afirma ele, norte-americano que vive há 15 anos no país asiático, e atende clientes como Apple e DuPont.
Apenas em 2011, 21 das 31 províncias chinesas aumentaram o salário mínimo em 22%, em média. Em fevereiro deste ano, pesquisa da Câmara Americana de Comércio em Shangai revelou que para 91% dos empresários atuando no China, “custos crescentes” é a principal dificuldade enfrentada, muito a frente de pirataria, por exemplo.
Para as companhias, uma solução seria se deslocar para mercados onde a rubrica mão de obra pesa ainda menos. Mas segundo Rein, isso não acontecerá nos próximos 5 anos, pelo menos. Para o autor, a produtividade e infraestrutra chinesas não podem ser replicadas de imediato em países como Vietnã e Indonésia. Na prática, portanto, as companhias terão que se acostumar com margens mais apertadas de lucro ou repassar os custos.
“A evaporação da mão de obra barata chinesa vai abalar as cadeias de fornecimento e os hábitos de consumo ao redor do mundo. Executivos e formuladores de políticas precisam se preparar antes da curva, evoluir e aproveitar as mudanças - ou então enfrentar a extinção”, afirma o livro.
Apple e Dell são apontadas como empresas que aprenderam que devem tirar proveito também do crescente mercado consumidor chinês. De acordo com o autor, somente a classe média chinesa representa um mercado de 350 milhões de pessoas.
Usando estatísticas, anedotas e revelando o que viu após vários anos entrevistando bilionários chineses, executivos do governo - e, acredite, até prostitutas - Shaun Rein mostra também, em "The End of Cheap China", o momento de otimismo que vivem os chineses, particularmente os jovens, que visualizam carreiras profissionais mais promissoras que seus pais – cenário não de todo diferente do otimismo que cerca os brasileiros hoje.
FONTE: PORTAL EXAME
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