A moda é dinâmica, está sempre apresentando visuais diferentes, propondo outros novos. Nela, a arte jamais prescinde a técnica.
Neste caso, estilo e modelagem devem caminhar lado a lado, para que mantenham uma parceria harmônica, redundando num bom produto.
Numa analogia breve, entre a moda e a música, poderíamos afirmar, que o estilo refere-se à sensação, produzida pelas ondas sonoras e a modelagem às notas atacadas pelo músico. Ou seja, em qualquer situação, ambas sempre manterão a dependência direta, uma da outra.
Não por acaso, as escolas de moda têm dado maior destaque à essa questão, no relativo ao aumento da carga horária da disciplina de modelagem, bidimensional e tridimensional, a fim de que o futuro profissional de moda, independente de qual vertente do segmento queira atuar, possa ter uma visão mais ampla – e crítica - do desenvolvimento do produto, no que diz respeito à forma da peça pretendida. Ainda é pouco, mas já é um bom começo!
Uma indústria de confecção inexiste sem a presença da modelagem, porque é ela que torna concreto o pensamento do criador. Pires (2004) aponta que fazer design é designar aspectos de formas, silhuetas, texturas, cores, materiais, emoções, associando-se a ergonomia na ampliação de benefícios, voltada para a estética, funcionalidade e o conforto. Desse modo, cabe-nos crer, que se a modelagem não cumpre o aspecto, principalmente, do conforto torna-se nula, por mais criativa e fulgural, que possa parecer a peça de vestuário.
Não à toa, James Lanver afirma, que o homem passou a cobrir o corpo, primeiramente, por necessidades físicas, a fim de afastar o frio, para depois pensar na questão estética do indumento (LANVER, 1993).
Ela, também, surgiu bem antes de a moda tornar-se um sistema de ordem própria, com suas metamorfoses incessantes (LIPOVETSKY, 1991).
Sendo assim, a arte de modelação (ou modelagem) é uma arte de proporcionalidade, deve criar condições, para se executar quaisquer peças do vestuário masculino ou feminino, adulto e infantil.
Além do conhecimento das medidas do corpo, é preciso que o profissional tenha noções de ergonomia, o que lhe permitirá a modelagem de roupas adaptadas à função do público consumidor (BORBAS, M. C.; BRUSCAGIM, R. R., 2007).
É uma profissão extremamente prática, que necessita de grande conhecimento técnico das formas, das medidas e movimentos do corpo humano. Isso não exclui a necessidade do profissional de buscar conhecimentos, de cunho teórico, que embasem o espectro dos saberes da moda. Pois só, ao fazer a conexão entre teoria e prática, de forma harmoniosa, é que se consegue, efetivamente, chegar a uma situação si ni qua non de um verdadeiro profissional de modelagem.
Modelar, pois, consiste na interpretação do modelo sobre a base, ou seja, na concretização das idéias do designer de moda e das informações registradas na ficha técnica do produto (SILVEIRA, 2006 apud BORBAS, M. C.; BRUSCAGIM, R. R., 2007).
O modelista é intérprete de uma linguagem muito especial, [...] O seu objetivo consiste em produzir moldes, que após cortados reproduzam o desenho e estejam de acordo com as medidas (ARAÚJO, 1996).
A Norma Técnica, que regulamenta as medidas padrão, para o traçado do diagrama na indústria brasileira é a NBR 13377 da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e apontam as principais medidas de circunferência do corpo humano, como busto, cintura e quadril.
No entanto, como não é obrigatória a sua aplicabilidade, as empresas de confecção desenvolvem as suas próprias tabelas de medidas, baseadas no público alvo, que consome a sua marca.
Há dois tipos de modelagem: a bidimensional ou plana e a tridimensional ou moulage (francês) ou drapping (inglês). A primeira é desenvolvida, manualmente, sobre um papel específico ou pelo sistema CAD, que é a forma de construção do diagrama e do molde, através do computador, com os ajustes feitos num corpo de prova, após a execução da peça-piloto.
E a segunda, a tridimensional, que consiste na construção do molde sobre um busto (manequim), masculino ou feminino, com os ajustes e correções prévias, para depois ser transferido, para o papel ou, ainda, digitalizados, para o sistema CAD. Esta técnica, ainda, é pouco utilizada nas confecções de grande produção. É empregada, em sua maioria, nos ateliers de costura sob encomenda, e começou a ser mais difundida nos meios industriais, no final da década de 80 e início dos 90, com o advento das faculdades de moda no país, e a entrada de novos produtos de moda, com a abertura das importações, pelo governo brasileiro.
É possível encontrar peças modeladas, sob essa técnica (moulage/drapping) em algumas confecções do Bom Retiro e Brás.
Dessa forma, é interessante o estudo desses métodos de modelagem, por uma simples questão: estando o setor, ainda engatinhando, nesse quesito, as interrelações deles, nos diversos segmentos de confecionados clarearão algumas indagações acerca do assunto, fortalecendo a idéia da criação de uma tabela efetiva de medidas, que sane alguns problemas das indústrias de confecção. Ao mesmo tempo, em que mostrará que é possível ter um método que margeie, pelo menos, as particularidades ligadas à limitação continental e biotípica de nosso país.