Escrita pela jornalista Eliane Cantanhêde, colunista da Folha, a biografia "José Alencar - Amor à Vida" traz a seguinte dedicatória da autora: "Ao meu pai, José Araújo Cantanhêde, que morreu aos 63 anos de um câncer tardiamente diagnosticado."
A partir daí, o livro, que marca o lançamento do Primeira Pessoa, selo da editora Sextante, conta os passos que o biografado seguiu para montar um império do setor têxtil e acabar virando vice-presidente da República.
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Alencar luta contra um câncer na região do abdome há 15 anos por meio de sucessivas cirurgias. Antes de sua saga médica, o vice de Lula era uma das vozes mais ruidosas contra os juros elevados do país, dando ressonância aos clamores do empresariado por uma queda significativa da taxa básica da economia, uma das condições para empréstimos mais baratos e maiores recursos para investir na produção.
Leia um trecho de "José Alencar - Amor à Vida".
A FESTA
O senador José Alencar Gomes da Silva pretendia comemorar seus 50 anos de vida empresarial em março de 2000, mas preferiu deixar passar as eleições municipais e realizar uma cerimônia suprapartidária no dia 11 de dezembro daquele ano, no Palácio das Artes, na avenida Afonso Pena, centro de Belo Horizonte. Tudo se passou em grande estilo e mudou o destino de Alencar se não o da própria história brasileira.
Numa festa impecável para mais de 4 mil pessoas, entre governadores, prefeitos, ministros, familiares e os principais líderes empresariais do país, Alencar narrou a história da sua vida de autodidata e self-made man. Apresentou em filme suas fabulosas empresas e abriu alas para Josué Christiano Gomes da Silva, o filho que assumiu o comando do império a partir do seu desvio de rota para a política.
Auditório lotado, Alencar ao lado da mulher, Mariza Campos Gomes da Silva, e a apresentadora oficial anuncia: "Com o fim da Segunda Guerra, o mundo começou a vislumbrar um futuro de progresso e desenvolvimento. Respira-se otimismo e o clima é de crescimento econômico. É nesse ambiente de confiança que um jovem de 18 anos de idade, do interior de Minas Gerais, começa a construir seu futuro. É essa história que nós vamos contar."
A Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, regida pelo maestro Emílio de César e acompanhada pela solista Tereza Cançado e pelo Coral Lírico do Estado, confere clima elegante, solene, quase erudito à cerimônia.
Com narração do próprio Alencar, um filme em cores mostra as 11 unidades do grupo Coteminas, desde a matriz, no norte de Minas, até as fábricas de fios, tecidos, toalhas de banho, toalhas de mesa, colchas, lençóis, meias e camisetas na Paraíba, no Rio Grande do Norte e em Santa Catarina, com nomes como Cotenor, Cotene, Cebratex e Wentex.
"Um colosso!", orgulha-se o narrador, repetindo uma das suas expressões mais frequentes em qualquer ocasião. Na tela, desfilam fábricas moderníssimas, automatizadas, com ambientes climatizados. A Cotenor, em Montes Claros, tem "o maior salão de tecelagem do mundo". A fábrica de lençóis, na mesma cidade, "tem quase um milhão de metros quadrados de área coberta, totalmente climatizada, com umidade e temperatura controladas".
Ainda segundo o ilustre locutor e homenageado do dia, a Wentex, de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, produz 5 milhões de camisetas por mês, todas para o mercado americano: "Estamos colaborando com o esforço nacional para fazer crescer as exportações brasileiras!" E mais: "Não há nada mais moderno e nada nessa dimensão no mundo. Os próprios suíços, que forneceram a maquinaria, dizem isso."
Mas o filme não para aí. O grupo construía àquela altura a usina hidrelétrica Porto Estrela, no Vale do Aço, em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Companhia Vale do Rio Doce, na base de 1/3 para cada um.
E, last but not least, a Fazenda Cantagalo, que cria gado nelore e produz as cachaças Sagarana, Porto Estrela e, especialmente, a Maria da Cruz "a melhor aguardente artesanal fabricada no mundo", informa o locutor, na dupla condição de fabricante e consumidor.
O filme termina com cenas de meninos e meninas robustos e sorridentes em escolas, consultórios médicos, consultórios dentários, quadras de esporte e piscinas que o grupo oferece às famílias de seus funcionários. "Isso vale a pena, isso realiza muito a gente", ecoa o vozeirão de Alencar.
Fim da projeção, início de um show de ginastas olímpicas da seleção brasileira. O auditório vibra, e o homenageado ri, feliz da vida. Chega a vez do discurso de Josué, caçula e único homem de três filhos, que assumiu o comando da Coteminas aos 26 anos, depois de um desempenho acadêmico brilhante e diplomas de Direito e Engenharia, mais um mestrado em Administração na prestigiada Vanderbilt, nos Estados Unidos.
Seguro, sóbrio, Josué conta aos convidados o principal ensinamento do pai e chefe: "Nada resiste à força do trabalho e à grande confiança no Brasil que ele sempre incutiu em nós." O filho e herdeiro discursa, enaltecendo a postura da Coteminas no ano anterior, 1999, diante da abrupta desvalorização cambial do governo Fernando Henrique Cardoso, que deixara os empresários de cabelo em pé e um rastro de pessimismo, aumentos de preços e demissões.
"A Coteminas foi a primeira empresa que decidiu não aumentar seus preços", afirmava Josué, lendo, palavra por palavra, o texto do anúncio que o grupo publicara em jornais, revistas, rádios e televisões. A fala é quase uma síntese do discurso que Alencar manteve a vida inteira: simples, otimista e profundamente nacionalista.
"O único aumento de que se fala na Coteminas é o aumento da confiança no país. O Brasil é um país de imensas potencialidades, com um povo maravilhoso, dono de uma força interior inabalável. É nisso que a Coteminas acredita, e essa crença está presente em cada trama do tecido de uma toalha, de um lençol ou de uma camiseta que produzimos. Tanto que continuamos investindo em tecnologia e no crescimento de nossas unidades de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Norte. E mais: não estamos aumentando o preço de nenhum dos nossos produtos. Este é o investimento mais importante que a nossa empresa está fazendo: o investimento no futuro do Brasil."
Rindo, Josué pede desculpas ao governador Esperidião Amin, ali presente, por não ter citado Santa Catarina: "Só agora estamos chegando lá, mas não precisa ficar triste."
Tudo o que Amin não estava era triste. Ao assumir a Artex, de Blumenau, o grupo havia não apenas mantido, mas ampliado os empregos e a escola técnica para o setor. "Eles, Alencar e Josué, são parceiros fiéis e confiáveis, por quem tenho respeito e admiração", comenta Amin, uma década depois daquela festa.
Na sua fala, Josué resume a potência em números: investimentos de R$ 100 milhões ao ano, produção multiplicada por quatro de 1994 a 2000, crescimento anual do faturamento na faixa de 41,6%, aumento de 25 vezes nas exportações, com um valor de US$ 120 milhões por ano. E, com solavancos ou não na economia, já estavam contratados U$ 150 milhões de vendas para o exterior no ano seguinte, 2001.
A indústria em geral desempregava, mas Josué informa aos convidados que o grupo Coteminas havia quase dobrado suas vagas. "A única forma de gerar empregos é crescendo", pontifica.
Também arranca aplausos e risos ao falar sobre empréstimos e investimentos a uma plateia de produtores sempre ressabiados com os financiadores. Depois de lembrar o falecido tio Geraldo, o mais velho dos 14 irmãos de Alencar, diz que "o capital também tem de ser remunerado", mas defende que os financiamentos devem ser "conservadores e com taxas competitivas" e repete um ditado muito apreciado no mundo corporativo: "Não se pode entrar em banco nem para se proteger da chuva!"
O herdeiro conta que o pai começou a vida pedindo 15 mil cruzeiros (moeda da época) ao irmão Geraldo e, meio século depois, a Coteminas tinha R$ 1,3 bilhão em ativos, com taxa anual de crescimento de 25,5%.
Alencar fala em seguida, deixando evidente o contraste entre o filho e ele. Ambos são grandes empresários, mas um é elegante e técnico, e o outro, popular, desenvolto, jeitoso, como manda a boa tradição política mineira. Cheio de manha, Alencar é o ponto alto da própria festa, que invade teatro, foyer e saguão de entrada, até chegar aos jardins durante o coquetel.
Enquanto agradece a presença de seis governadores e 12 senadores, um garçom chega de mansinho, deixando um copo d'água no púlpito. Seu nome: Augusto Gerônimo Pedrosa, maître do restaurante da sede da Coteminas em Belo Horizonte desde 1993. Baixinho e meio careca, é uma figura discretíssima, mas conhecida de boa parte dos ilustres e ricos convidados muitos deles habitués de gabinetes ou casas de Alencar em Minas, Brasília, São Paulo e Rio.
Depois de citar governadores como Dante de Oliveira, de Mato Grosso, e Albano Franco, de Sergipe; senadores como Jader Barbalho (PA) e Pedro Simon (RS), do PMDB, seu partido na época, e prefeitos, como Célio de Castro, de Belo Horizonte, Alencar surpreende a plateia com uma deferência especial.
Para "motivo de muita honra mesmo", anuncia: "Aqui está, entre nós, nada mais, nada menos do que o grande brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva." E os aplausos para Lula são, inequivocamente, os mais contundentes de toda a cerimônia. Exceto, é claro, quando o aplaudido é o próprio Alencar.
A gravação da solenidade registra, nesse momento, um zoom em Lula, num terno cinza claro muito bem cortado, acima do peso e coçando a barba ambos, peso e barba, bem maiores do que nos anos seguintes de Presidência da República.
E como o metalúrgico e sindicalista Lula foi parar ali, no covil dos leões ou dos patrões? Simples. Ao emitir mais de mil convites, Alencar incluíra todos os presidentes de partido. O PT enviou os seus dois: Lula, o presidente de honra, e José Dirceu, o de fato e de direito, mineiro e que já andava de olho nesse empresário e político tão peculiar.
Apesar da presença maciça de políticos, Alencar que tinha adiado a festa de março para dezembro para fugir do cronograma eleitoral inicia seu discurso final, todo de improviso, dizendo o oposto do que se constatava ali: "É uma beleza essa festa para o nosso coração. Não é uma festa política, mas uma reunião de amigos, representados em quase todos os partidos."
E cita o líder comunista chinês Deng Xiaoping (1904-1997): "Não importa a cor do gato, o que importa é que ele cace o rato." Ele mesmo decifrou a metáfora: "Não importa a coloração ideológica, o que importa é o bem comum." Aplausos, muitos aplausos naquele auditório, que, ao contrário, tinha coloração ideológica bastante clara. E não exatamente pró-regime comunista chinês.
Apesar disso e do tom eclético, suprapartidário, Alencar faz uma concessão ao PMDB, saudando o senador gaúcho Pedro Simon como "o candidato do nosso partido à Presidência da República". Conforme a história registra, Simon nunca chegaria a ser realmente candidato. E Alencar, muito provavelmente, sabia bem disso. Quis apenas fazer um gesto de cortesia.
Se alguém tivesse de apostar naquele momento, o mais provável era que o astuto empresário e estreante senador, em segundo ano de mandato, preferisse um candidato tucano. Mas não há registro da cúpula nacional do PSDB na festa decisiva. As principais estrelas do partido foram o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, o ex-prefeito de Belo Horizonte Pimenta da Veiga e o então governador de Mato Grosso Dante de Oliveira (1952-2006) que entrou para a história como o jovem deputado da emenda das "Diretas Já", de 1984, e a quem Alencar se referiu com especial carinho.
Como governador, Dante concedera incentivos fiscais para a produção de algodão, que era obviamente fundamental para as empresas de fiação e tecelagem dos Gomes da Silva. O gesto quebrou um tabu. Os produtores nacionais enfrentavam então uma avalanche de impostos, não eram competitivos e o mercado brasileiro estava inundado pela oferta barata da Ásia, da Europa e da África. Dante, sempre visionário, rompeu essa barreira.
"É um milagre o que o Dante está fazendo em Mato Grosso, que produziu no ano passado 320 mil toneladas de algodão, mais do que toda a produção nacional", discursa o homenageado.
Alencar não se esquece de elogiar também o povo brasileiro: "Honesto, pacífico, inteligente, versátil. Talvez a miscigenação nos confira essa versatilidade toda, invejada no mundo inteiro."
E, claro, aproveita para falar num dos seus orgulhos: a capacidade de gerar empregos. A Coteminas somava, então, 12 mil funcionários. Considerando-se as coligadas, eram 16.200, o que resultava em "50 mil brasileiros que vivem dessas empresas". Ao homenagear "os companheiros" que trabalharam durante anos ou décadas na Coteminas, afirma: "Nunca dispensamos ninguém. E temos sobrevivido."
Critica, ora, ora, a carga tributária, um dos seus temas prediletos nos primeiros anos do governo Lula. E, apesar de se identificar mais com o centro, é duro com o então governo de Fernando Henrique uma das ausências mais notadas na ocasião, ao reclamar da venda de empresas estatais "a preço de banana" para pagar os juros da dívida externa. "Estamos negociando mal!", acusa.
O resultado, na opinião de Alencar, era que as indústrias nacionais se viam prejudicadas num rápido e irreversível processo de globalização, sem competitividade ou pelo menos igualdade de condições: "A competição é desigual e predatória", brada sob aplausos.
E, nesse ponto, inicia o relato de sua própria história, desde que saiu de casa na pequena Miraí aos 14 anos rumo a Muriaé, ambas no interior de Minas Gerais. "Mas não foi para estudar, não, porque meu pai não tinha condições de pagar. Foi para trabalhar mesmo." Ao se despedir da família, disse:
- Bênção, pai, bênção, mãe.
Ouviu então do pai, Antônio Gomes da Silva, uma frase que passou o resto da vida repetindo e levando a sério:
- O importante na vida é poder voltar.
Aos 18 anos, pediu a seu Antônio para ser emancipado legalmente (a maioridade era aos 21) e pegou dinheiro emprestado com o irmão Geraldo, quase 18 anos mais velho, para abrir seu primeiro negócio: "A Queimadeira", uma loja de tecidos em Caratinga.
Eram 15 contos de réis, e ele pagava 1,5% de juros ao mês a Geraldo.
Um belo dia, o gerente da agência do Banco Hipotecário e Agrícola do estado de Minas Gerais, também chamado Geraldo - Geraldo Santana-, questionou:
- Ô menino, seu irmão está cobrando juros muito caros! Eu ofereço 1%.
Encucado, Alencar procurou o outro Geraldo, seu irmão, e cobrou. Resposta:
- Eu nunca te cobrei juros. Aquilo é o aluguel do dinheiro!
A plateia quase vem abaixo, as risadas correndo soltas.
E qual a diferença entre juros e aluguel do dinheiro? Geraldo explicou, de irmão para irmão: no banco, a promissória vence e as pessoas têm de pagar de qualquer jeito, senão perdem tudo. Com ele, Alencar só precisaria pagar o aluguel do dinheiro, deixando para amortizar o principal quando tivesse condições para isso.
- Então, você me doou o dinheiro? quis saber Alencar.
Resposta:
- Não doei nada. Quando você fizer capital, você vai me pagar. Mas aí não vai te fazer falta.
Moral da história, 50 anos depois, nas palavras de Alencar: "Aprendi que o dinheiro tem custo e precisa ser remunerado, e que o dinheiro de longo prazo é um estímulo para o jovem começar a vida."
Lembra também o pulo do gato da sua vida empresarial, quando ele e o sócio, Luiz de Paula Ferreira, criaram a Coteminas com apoio da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e como isso foi decisivo para todo o resto da história.
Entre uma coisa e outra, ou entre aquele primeiro empréstimo de Geraldo e o apoio da Sudene, muita água rolou. E, claro, Alencar não deixa de contar ali, naquela solenidade, como começou a vida ganhando 300 cruzeiros por mês como vendedor, morando num cantinho de corredor num hotel barato, depois de uma longa negociação com a proprietária, dona Maria. Ela queria cobrar 280 contos de réis pelo cantinho e três refeições por dia. Ele teria pechinchado ao máximo:
"Foi o primeiro negócio que fiz na minha vida, aos 14 anos de idade", exulta como se tivesse acontecido dias antes. "Equilibrei meu orçamento quando chegamos a 220 contos de réis e com roupa lavada!" Novos aplausos, novos risos. A plateia já estava totalmente cativada.
Dez anos depois, o petista José Dirceu seria capaz de lembrar "daquele discurso belíssimo, politizado, otimista, desenvolvimentista" e da impressão que aquele empresário causara nele e no próprio Lula: "Alencar era contemporâneo, não era alguém do passado. Ficava evidente que era um homem que ia fazer muita coisa, não um homem que já tinha feito. Não era uma comemoração de alguém que estava se aposentando. Porque todo o discurso dele, todo o estilo dele, toda a oratória dele tinham a força de alguém que estava construindo. A sensação que eu tive era de alguém que queria governar o Brasil."
Alencar discursa e, em seguida, Adriano Silva, fiel escudeiro, vai discretamente até Lula, cumprimenta-o e pergunta se gostaria de "falar algumas palavras". Lula retribui o convite com um sorriso, agradece e declina. Depois, cochicha ao ouvido do presidente de fato do PT:
- Zé, vai você, que é de Minas e conhece melhor essa gente aqui.
Dirceu é recebido com pálidas palmas ao se aproximar do microfone, mas faz um discurso essencialmente político e capricha no sotaque mineiro. Em Roma, como os romanos.
"O Lula quis me dar o privilégio de falar em nome dele e do PT porque sou mineiro, e você, José Alencar, honra Minas Gerais e o Brasil como cidadão e homem que sonha com o Brasil", começa Dirceu. E prossegue:
"Este Brasil do qual o senador fala com tanta paixão nunca foi o país do possível, sempre foi o país da audácia e do sonho. Nós temos um sonho para o Brasil, e esse sonho depende muito do empresariado brasileiro. Precisamos de um projeto de desenvolvimento nacional, e esse projeto não existirá sem o empresariado. Hoje, o que assistimos é que grande setor do nosso empresariado vive de costas para o Brasil, não acredita mais no nosso Brasil. De costas para o Brasil, não vamos a lugar nenhum."
Ainda Dirceu:
"O senador José Alencar representa uma liderança daquelas que acreditam no Brasil. Essa é a nossa mensagem aqui, hoje, mensagem de fé no Brasil, uma fé que pode ser muito bem representada pela vida e pela obra do senador José Alencar."
Encerra lembrando uma máxima do próprio pai: "Desejo-lhe muita saúde, porque, como meu pai sempre dizia, do resto, nós cuidamos trabalhando." Foi um voto premonitório, como se veria ao longo da década seguinte.
O desfecho da festa, depois de muitos e muitos discursos de loas ao homem, ao empresário e ao político José Alencar, reserva a leitura, nome por nome, dos mais antigos e fiéis funcionários da Coteminas. Chamam-se ao palco os que ali compareceram para cumprimentar o chefe e patrão.
O primeiro nome citado, para "um preito de profunda saudade", é o de Maria Auxiliadora da Silva Teixeira, a Dorinha, que trabalhou durante anos como representante da Coteminas em Minas e morrera de câncer havia pouco, em 8 de setembro do ano anterior. Ela sempre foi das irmãs mais queridas de Alencar e da família.
Entre os nomes, incluíam-se Fábio Vieira Marques Júnior, primeiro diretor da empresa no Rio Grande do Norte e depois da unidade de Montes Claros, em Minas, e Pedro Garcia Bastos Neto, vice-presidente industrial. Fábio e o filho de Pedro, o engenheiro Rospierre Vilhena Garcia Bastos, também funcionário da empresa, morreriam sete anos depois no acidente do Airbus da TAM que fazia o voo 3054 e explodiu no aeroporto de Congonhas em 17 de julho de 2007, com 187 vítimas a bordo e 12 no solo.
Eles tinham participado de uma reunião na fábrica de Santa Catarina e decidiram antecipar a volta para Minas, embarcando à última hora no voo 3054, que faria escala em Congonhas. A tragédia causou comoção na Coteminas.
Os velhos funcionários cumprimentam Alencar no palco e um batalhão de 200 garçons começa a se mover entre os 15 bufês quando Lula e José Dirceu vão cumprimentar o anfitrião. O papo é ótimo. Lula elogia a cerimônia e o sucesso das empresas, enquanto Alencar agradece pela presença, todo sorrisos. É desse primeiro contato olho no olho que se materializa o convite de Alencar para que os dois fossem pessoalmente visitar as sedes das fábricas do grupo.
Ao deixar o Palácio das Artes, Lula reflete sobre aquele homem que veio do nada e não pôde estudar, construiu um império, conquistou tanto prestígio, tinha mandato, falava de uma forma tão cativante, era um nacionalista convicto, respeitava os empregados e era politicamente liberal na prática, um suprapartidário. De quebra, Alencar era senador por Minas Gerais, estado-chave na eleição presidencial seguinte, a de 2002, e tinha um dom natural para a oratória. Discursava coloquialmente, com carisma e emoção.
Ao entrar no carro e bater a porta, Lula anuncia de chofre para José Dirceu:
- Encontrei o meu vice.
"José Alencar - Amor à Vida"
Autora: Eliane Cantanhêde
Editora: Primeira Pessoa (novo selo da Sextante)
Páginas: 256
Quanto: R$ 39,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha