terça-feira, 9 de abril de 2013

Como Blogueiras Fazem da Moda um Negócio Lucrativo

Elas faturam até 100.000 reais divulgando modelitos, comentando produtos de beleza e comparecendo a eventos — sempre em combinação com as marcas

Thássia Naves recebe mais de 100.000 visitas diariamente em seu blog. No Instagram, ela possui quase 500.000 seguidores
Thássia Naves recebe mais de 100.000 visitas diariamente em seu blog. No Instagram, ela possui quase 500.000 seguidores (Reprodução/Instagram)
Elas estão na faixa dos vinte e poucos anos, adoram comprar roupas e itens de beleza e também palpitar em seus blogs sobre as combinações mais adequadas para cada ocasião. Além disso, descobriram como a publicidade pode virar um negócio rentável se aliada ao conteúdo de seus sites. Promovendo marcas, experimentando modelitos, comparecendo a eventos e testando produtos de beleza, essas garotas faturam até 100.000 reais por mês. Elas não são jornalistas ou críticas de moda, que se dedicam à análise do assunto como um fenômeno cultural. São, na verdade, consumidoras influentes, que levam as novidades do mercado a uma audiência cativa de meninas da mesma idade, igualmente apaixonadas pelo assunto. "Queridas: esta bolsa é um luxoooooo!", eis uma publicação verossímil das jovens blogueiras.
O modelo de negócio dos blogs é baseado na venda de espaço publicitário: o texto, foto ou vídeo publicado dá destaque ao produto de uma marca, que remunera a autora. Esse, contudo, nem sempre é um casamento perfeito. No ano passado, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) advertiu um grupo de blogueiras que não deixava claro que suas postagens tinham esse caráter. Era gato por lebre.
Para evitar o problema, as blogueiras agora explicitam quais postagens rendem dinheiro. Assim, são comuns publicações acompanhadas pelas palavras "publipost" (ou seja, post publicitário) e até "jabá" (redução da palavra "jabaculê", que tanto pode signficar dinheiro para aliciar alguém quanto gorjeta). Em tese, cada uma das garotas promove marcas com as quais se identifica. "Como nesse tipo de trabalho cria-se um envolvimento entre a marca e a blogueira, cada parceria é analisada previamente pela autora do blog", diz Carol Quinteiro, sócia da F*Hits, rede do segmento de moda que reúne 24 blogueiras. "É importante que haja alguma identidade entre a marca e o caráter do blog." 
Arte/VEJA
A maioria dos blogs considerados "top" pelos anunciantes — aqueles que reúnem boa audiência e relevância — tem ao menos três anos de vida e não nasceu com proposta comercial. O sucesso desses endereços logo atraiu as empresas. As garotas, que começaram sozinhas, passaram a contar com a ajuda de consultorias, que fazem quase de tudo: ajudam a incrementar os blogs, revisam textos e editam fotos, além de mediar a relação entre blogueiras e anunciantes. Os acordos variam de 10% (caso da gCampaner, consultoria fundada por Gabriel Campaner, ex-Daslu) a 50% (caso da F*Hits).
A atenção despertada pelos blogs se apoia em números nacionais. O mercado brasileiro de moda movimentou mais de 100 bilhões de reais em 2012, segundo relatório do Ibope. Na internet, beleza e moda já figuram em segundo e terceiro lugar, respectivamente, como os segmentos que mais faturam, de acordo com o relatório WebShoppers, da e-bit, consultoria especializada em e-commerce. Consequentemente, a marcação #lookdodia, hashtag utilizada no Instagram para identificar as sugestões das blogueiras, ganha relevância — e valor publicitário. Entre a exposição de uma peça e a sua venda o caminho virtual é curto. E a influência das blogueiras é crucial nessa conversão.
Augusto Mariotti, diretor de conteúdo da Luminosidade, responsável pelos sites da São Paulo Fashion Week, Fashion Rio e Rio Summer, lembra que o desempenho dos blogs (assim como dos demais sites) é facilmente mensurável, o que permite às grifes acompanhar em tempo real a resposta a uma campanha. "Essas blogueiras têm muitas seguidoras e acabaram se tornando porta-vozes dessas mulheres. As marcas simplesmente perceberam que as roupas exibidas por elas vendem mais", diz o empresário.
Arte/VEJA
Quem olha de fora pode pensar que a vida das blogueiras é repleta de diversão e glamour. Isso é verdade apenas em parte. Elas recebem muitos produtos de beleza, roupas exclusivas e jantares em restaurantes caros, além de acompanharem de perto (às vezes) as semanas de moda em locais como Nova York, Londres, Milão e Paris. A entrada nos desfiles mais concorridos, contudo, não é garantida. "As blogueiras trabalham muito. Elas dormem poucas horas por noite, acordam cedo, fotografam e precisam produzir conteúdo periodicamente", diz Carol Quinteiro, da F*Hits. "Essas meninas não são jornalistas e nem têm pretensão de ser. Mas seus blogs passaram a fazer sentido na vida de milhares de pessoas."
Entre os anunciantes mais empolgados com a onda dos blogs de moda estão lojas virtuais, produtos de beleza, sapatos, joalherias, marcas de roupas e até companhias aéreas. As grifes mais badaladas, no entanto, ainda olham a web com ceticismo. "As marcas de luxo não são entusiastas do e-commerce, já que querem oferecer aos clientes uma experiência única em suas lojas a partir do contato direto com o produto", diz Mariotti. A maré, contudo, pode mudar. "A fim de atingir um público mais jovens, grifes como a britânica Burberry já começaram a olhar a internet e as redes sociais com mais atenção."
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