Elas faturam até 100.000 reais divulgando modelitos, comentando produtos de beleza e comparecendo a eventos — sempre em combinação com as marcas
Thássia Naves recebe mais de 100.000 visitas diariamente em seu blog. No Instagram, ela possui quase 500.000 seguidores (Reprodução/Instagram)
Elas estão na faixa dos vinte e poucos anos, adoram comprar roupas e
itens de beleza e também palpitar em seus blogs sobre as combinações
mais adequadas para cada ocasião. Além disso, descobriram como a
publicidade pode virar um negócio rentável se aliada ao conteúdo de seus
sites. Promovendo marcas, experimentando modelitos, comparecendo a
eventos e testando produtos de beleza, essas garotas faturam até 100.000
reais por mês. Elas não são jornalistas ou críticas de moda, que se
dedicam à análise do assunto como um fenômeno cultural. São, na verdade,
consumidoras influentes, que levam as novidades do mercado a uma
audiência cativa de meninas da mesma idade, igualmente apaixonadas pelo
assunto. "Queridas: esta bolsa é um luxoooooo!", eis uma publicação
verossímil das jovens blogueiras.
O modelo de negócio dos blogs é baseado na venda de espaço
publicitário: o texto, foto ou vídeo publicado dá destaque ao produto de
uma marca, que remunera a autora. Esse, contudo, nem sempre é um
casamento perfeito. No ano passado, o Conselho Nacional de
Autorregulamentação Publicitária (Conar) advertiu um grupo de blogueiras que não deixava claro que suas postagens tinham esse caráter. Era gato por lebre.
Para evitar o problema, as blogueiras agora explicitam quais
postagens rendem dinheiro. Assim, são comuns publicações acompanhadas
pelas palavras "publipost" (ou seja, post publicitário) e até "jabá"
(redução da palavra "jabaculê", que tanto pode signficar dinheiro para
aliciar alguém quanto gorjeta). Em tese, cada uma das garotas promove
marcas com as quais se identifica. "Como nesse tipo de trabalho cria-se
um envolvimento entre a marca e a blogueira, cada parceria é analisada
previamente pela autora do blog", diz Carol Quinteiro, sócia da F*Hits,
rede do segmento de moda que reúne 24 blogueiras. "É importante que haja
alguma identidade entre a marca e o caráter do blog."
A maioria dos blogs considerados "top" pelos anunciantes — aqueles
que reúnem boa audiência e relevância — tem ao menos três anos de vida e
não nasceu com proposta comercial. O sucesso desses endereços logo
atraiu as empresas. As garotas, que começaram sozinhas, passaram a
contar com a ajuda de consultorias, que fazem quase de tudo: ajudam a
incrementar os blogs, revisam textos e editam fotos, além de mediar a
relação entre blogueiras e anunciantes. Os acordos variam de 10% (caso
da gCampaner, consultoria fundada por Gabriel Campaner, ex-Daslu) a 50%
(caso da F*Hits).
A atenção despertada pelos blogs se apoia em números nacionais. O
mercado brasileiro de moda movimentou mais de 100 bilhões de reais em
2012, segundo relatório do Ibope. Na internet, beleza e moda já figuram
em segundo e terceiro lugar, respectivamente, como os segmentos que mais
faturam, de acordo com o relatório WebShoppers, da e-bit, consultoria
especializada em e-commerce. Consequentemente, a marcação #lookdodia,
hashtag utilizada no Instagram para identificar as sugestões das
blogueiras, ganha relevância — e valor publicitário. Entre a exposição
de uma peça e a sua venda o caminho virtual é curto. E a influência das
blogueiras é crucial nessa conversão.
Augusto Mariotti, diretor de conteúdo da Luminosidade, responsável
pelos sites da São Paulo Fashion Week, Fashion Rio e Rio Summer, lembra
que o desempenho dos blogs (assim como dos demais sites) é facilmente
mensurável, o que permite às grifes acompanhar em tempo real a resposta a
uma campanha. "Essas blogueiras têm muitas seguidoras e acabaram se
tornando porta-vozes dessas mulheres. As marcas simplesmente perceberam
que as roupas exibidas por elas vendem mais", diz o empresário.
Quem olha de fora pode pensar que a vida das blogueiras é repleta de
diversão e glamour. Isso é verdade apenas em parte. Elas recebem muitos
produtos de beleza, roupas exclusivas e jantares em restaurantes caros,
além de acompanharem de perto (às vezes) as semanas de moda em locais
como Nova York, Londres, Milão e Paris. A entrada nos desfiles mais
concorridos, contudo, não é garantida. "As blogueiras trabalham muito.
Elas dormem poucas horas por noite, acordam cedo, fotografam e precisam
produzir conteúdo periodicamente", diz Carol Quinteiro, da F*Hits.
"Essas meninas não são jornalistas e nem têm pretensão de ser. Mas seus
blogs passaram a fazer sentido na vida de milhares de pessoas."
Entre os anunciantes mais empolgados com a onda dos blogs de moda
estão lojas virtuais, produtos de beleza, sapatos, joalherias, marcas de
roupas e até companhias aéreas. As grifes mais badaladas, no entanto,
ainda olham a web com ceticismo. "As marcas de luxo não são entusiastas
do e-commerce, já que querem oferecer aos clientes uma experiência única
em suas lojas a partir do contato direto com o produto", diz Mariotti. A
maré, contudo, pode mudar. "A fim de atingir um público mais jovens,
grifes como a britânica Burberry já começaram a olhar a internet e as
redes sociais com mais atenção."
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