segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O Mercado de Moda no Brasil - Parte 1/Parte 2/Parte 3

 Parte 1

Pesquisa nacional revela perfil e expectativas profissionais de estudantes
Entre 21 de julho e 3 de agosto, UseFashion entrevistou mais de 500 estudantes de cursos técnicos e graduações de moda de 20 estados: Acre, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins. Todos concorreram a uma assinatura cortesia de 6 meses, que teve como ganhador o número 174, de Marcela Vilar Takemoto, estudante do Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo (SP).
O tema se transformou na reportagem da edição impressa do UseFashion de setembro e agora ganha uma versão online. É uma análise completa das respostas obtidas nessa pesquisa, complementada por depoimentos de profissionais, como recrutadores e consultores comportamentais. A seguir, confira a 1ª parte, que reúne os dados e constitui um perfil dos estudantes de moda do Brasil, revelando detalhes de sua formação, desejos profissionais, entre outros. Aguarde as demais partes nos próximos dias.
Na sala de aula 
Como você imagina um estudante brasileiro de moda? Provavelmente alguém do sexo feminino e jovem, certo? Acertou. O sexo masculino representou apenas 10% dos respondentes. As faixas etárias com mais respondentes foram entre 21 e 25 anos (42%) e entre 15 e 20 anos (28%), dados que indicam um perfil predominante bastante jovem.
Em sua maioria (86%), os estudantes frequentam instituições privadas de ensino e, entre curso técnico e graduação, optam pela universidade (82%). A estatística só é mais esmagadora quando é ligada à modalidade de ensino: 91% responderam que seu curso é totalmente presencial.  Sobre o tempo de realização, 37% representam a maioria, afirmando que passam entre 3 e 4 anos estudando para chegar ao fim do curso. A internet é a maior aliada na busca por espaço no mercado de trabalho, já que sites de emprego e redes sociais lideram entre os métodos de pesquisa de vagas. 
  
  
No mercado de trabalho
Por mais que publicações especializadas demonstrem um mercado nacional aquecido, somente 13% dos respondentes está passando por algum processo seletivo. O empreendedorismo, característica exaltada entre os brasileiros, se mantém entre os estudantes, já que 82% possuem ou sentem interesse em ter um empreendimento próprio. 
17% é o número de respondentes que só estudam e 23% relatam atuação em função profissional de outra área. O restante do percentual é dividido entre freelancers, estagiários, trainees e empregados efetivos na moda. As vagas temporárias, comuns principalmente no varejo, já fazem parte do currículo de 49% dos estudantes.

  
Funções mais e menos atrativas 
Na tabela abaixo, na porção da esquerda, confira as áreas profissionais mais desejadas pelos estudantes, que obtiveram mais respondentes no nível máximo, “Muito interesse”,  em uma escala de interesse com 5 níveis. Na direita, o patamar inverso, com as áreas com avaliação mais negativa:
Áreas profissionais mais desejadas Áreas profissionais menos desejadas
1º - Pesquisa
1º - Área administrativa
2º - Design de produtos
2º - Docência
3º - Figurino
3º - Área comercial
4º - Fotografia
4º - Jornalismo
5º - Personal stylist
5º - Desenho têxtil
Prioridades de quem está começando a trabalhar 
Em uma escala de importância com 5 níveis, os tópicos da esquerda são os que tiveram mais respondentes no nível máximo, “Muito importante”. Os fatores da direita foram os que receberam mais quantidade de respostas nos 2 itens de menor relevância, "Não é importante" e "Pouco importante". 
Prioridades de quem está ingressando no mercado Fatores menos importantes no primeiro emprego  
1º - Aprimoramento profissional
1º - Local de trabalho próximo
2º - Possibilidade de efetivação
2º - Boa remuneração
3º - Reconhecimento
3º - Horário flexível
4º - Liberdade criativa
4º - Benefícios
5º - Plano de carreira
5º - Porte da empresa
Fotos: UseFashion


Parte 2

Empreendedorismo, empresas dos sonhos e o que o mercado quer
Os estudantes de moda brasileiros estão cada vez mais plurais. Pode parecer estranho ler esta afirmação após analisar dados que mostram um segmento, em parte, estereotipado: feminino, idade entre 21 e 24 anos, proveniente de instituição privada se mostra muito interessado em pesquisa e sem nenhum interesse em administração.
 
 
Porém, devemos lembrar que se trata de uma parcela essencialmente jovem da população, vinda de uma geração que é capaz de desenvolver diversas tarefas simultaneamente. Desta forma, mesmo parecendo tão fechado e homogêneo, esse cenário apresenta diversas peculiaridades, com diversos personagens. Seja mulher acima de 40 anos iniciando graduação, homem que cria para empresa familiar, estudantes de fora do eixo principal da moda no país ou não, que brigam igualmente por vagas de estágio, contrato e até mesmo trainee.
 
Estudantes empreendedores
 
Gianni Versace fundou uma das mais glamurosas marcas do século 20 sob o seu nome, após ter trabalhado para Callaghan e Complice. Alexander McQueen saiu da Givenchy para fundar sua própria grife. Não por acaso, 4 em cada 5 jovens brasileiros acadêmicos de moda aspiram criar seu próprio negócio. Dizem ter perfil empreendedor, e ao mesmo tempo indicam administração como a atividade que menos interessa.
 
Fernando Elias José, psicólogo e consultor comportamental em empresas, explica que um dos motivos é justamente a pluralidade que é inerente aos jovens atuais: “A geração Y está ligada no prazer imediato, ou seja, respostas rápidas e muitas vezes sem medir prós e contras em uma determinada situação. Por essa razão, muitas vezes ocorre o ‘pensamento mágico’ de que as coisas irão acontecer sem precisar organizar a administração”.
 
Mais do que criativo e inovador, um empreendedor precisa ter os pés no chão, sabendo lidar com o negócio de forma global e primando pela pró-atividade. É fundamental optar por outras soluções. "O jovem está aberto a beber de variadas fontes, conectar-se a pessoas que entendam daqueles pontos que são suas dificuldades, caso da administração. Talvez não busque a informação através de uma especialização completa, mas sim busque outras formas de sanar dúvidas pontuais, usando principalmente as pessoas”, opina Gabriel Milanez, sociólogo da Box 1824, agência que desenvolveu a pesquisa "Sonho Brasileiro".
 
O que o mercado quer?
 
A exigência em vagas profissionais, não apenas na area da moda, é cada vez maior. Isso faz com que o estudante precise absorver o máximo de conhecimento possível na sua respectiva academia. É preciso estar atento às oportunidades, principalmente de estágio, que tem números bastante reduzidos em relação à vagas plenas. É preciso planejar a carreira. 
 
Enquanto o estudante mira seu foco em áreas de pesquisa, o mercado necessita, de forma imediata, de funções práticas. Existem grandes oportunidades no mercado, que ainda não foram percebidas por profissionais, principalmente recém-formados. “O varejo traz um número enorme de vagas de emprego e pode ser a porta de entrada para o estudante. Muitos que entraram como vendedores foram para dentro da fábrica atuar em marketing, criação, gerenciamento de showroom e projetos de visual merchandising para redes” conta Angela Valiera, designer de inovação e novos negócios do portal Carreira Fashion.
 
Empresas dos sonhos
 
  
Farm | Farm| Osklen 
 
   
UseFashion
 
Uma das perguntas propostas na pesquisa era: "Se pudesse escolher qualquer empresa de moda para trabalhar, qual seria?". Os resultados encontrados mostram que o público de moda busca liberdade criativa e boa vitrine. Entre as empresas mais citadas estão Osklen, Farm e UseFashion. Confira como cada uma lida com seus profissionais:
 
- Ana Lucia Poças, gerente de RH da Osklen: “Procuramos pessoas antenadas, descoladas, com conhecimento de moda e acima de tudo que demonstrem potencial para entendimento e tradução de nosso lifestyle”.
 
- Marília Paiva, coordenadora de RH da Farm Rio: “Realizamos muitos aproveitamentos internos e desenvolvemos pessoas para crescimento tanto na área comercial como em outras áreas da empresa”.
  - Wilson Silveira, diretor da UseFashion: "Temos trabalhado para criar o que acreditamos que os bons profissionais mais desejam: autonomia e gestão participativa. Buscamos escutar a todos e, principalmente, valorizar ideias e pessoas que demonstram estarem engajadas com esta cultura”

Fonte:|http://www.usefashion.com/categorias/noticias.aspx?IdNoticia=99356


Parte 3

Especialistas respondem dúvidas dos estudantes
Junto ao formulário de respostas da pesquisa sobre o mercado de moda no Brasil, os estudantes tiveram espaço para registrar dúvidas. Selecionamos algumas delas, trazendo as respostas de profissionais da área:

Criatividade

O mercado de moda brasileiro, apesar do crescimento e certo reconhecimento internacional, tende a ser sufocado por Índia e China? Como evitar?
Marcela Vilar Takemoto – SP

"O Brasil sofre, mas não pode sofrer sempre. A solução é sempre inovar. Sempre lançar algo novo, novas criações. Quem conseguir evitar a copia com seguidos novos lançamentos, vai conseguir competir com um mercado que tende a ser genérico. As empresas brasileiras precisam ser mais rápidas. O nosso mercado sobreviverá dependendo do seu poder de criação."
Maria Paula Machia, gerente de marketing da Cipatex

Qual o caminho que um estudante deve seguir para ser um designer de sucesso?
Ivana Armentano Rangel - BA
 
"Somos jovens de academia de moda. Ainda existe uma tensão inicial. Parece que precisa sair da graduação sendo o novo Alexandre Herchcovitch. Isso não existe. É preciso lidar com aptidões. Você mexe com pesquisa, ou com tecido e deve manter o que sabe. Deve se especializar nisso. Acho que ninguém está pronto. Quem sai de uma faculdade deveria passar um período sabático, catando alfinete em ateliê, fazendo ficha técnica. E só quando estiver pronto, vivenciado, aí sim lançar um projeto. Mas as pessoas precisam descobrir as suas aptidões. Antes de mais nada, você precisa fazer aquilo que gosta."
Walter Rodrigues, estilista

 
Porque as faculdades passam criatividade, se o que as empresas esperam é produção?
Claudia Quadro - SC
 
Nos dias atuais não vejo que estes dois fatores possam andar separados. A velocidade do mundo atual e a riqueza de informações disponível através dos veículos e instituições permite que todos tenhamos conhecimentos, mas a criatividade é algo que precisamos saber desenvolver. Inovar e produzir através do conhecimento adquirido é criar um mundo de oportunidades.
Wilson Silveira, diretor-executivo Grupo UseFashion

RH

Como se destacar em uma entrevista?
Mariane Cristine Brandão Tomaz – SP
 
"Evitar pessoalizar na hora da entrevista, ou seja, não mostrar muita intimidade no caso do candidato. Esse momento é fundamental, então a apresentação deve ser clara, objetiva e o mais profissional possível. Os candidatos estão nesse momento com o intuito de conseguir um emprego, e acabam, muitas vezes, se mostrando de uma forma distorcida e isso acaba gerando contratações inadequadas para ambos os lados. O certo é ter controle no que vai ser dito, pois muitas vezes os candidatos estão nos extremos, ou se dizem muito bons ou não falam nada."
Fernando Elias José, psicólogo e consultor comportamental em empresas

 
Um estudante que está próximo de terminar a faculdade e aceita um estágio não-remunerado, pode ficar desvalorizado na profissão?
Bárbara Galvão Nóbrega - CE
 
"Não, pois o mercado está em expansão, dessa maneira é importante se qualificar cada vez mais e uma forma eficaz disso é estar não somente com a teoria, mas também com a prática. É indicado principalmente em profissões que exigem muito do conhecimento prático na hora da contratação, então a área de atuação que você quer deve guiar sua decisão."
Fernando Elias José, psicólogo e consultor comportamental em empresas

Comunicação

Como é a rotina de quem trabalha com marketing de moda?
Sabrina Maria Padilha - RS
 
"Quem trabalha com marketing tem que ser uma pessoa muito inquieta e curiosa. O tempo todo precisa estar atrás de informação. Precisa ser plugada, antenada. E o principal: tem que gostar muito daquilo que faz. Pois, na verdade, não há uma rotina. Precisa estar o tempo todo pensando coisas novas, repensando o antigo. É um empreendedor nato, precisa ter uma aptidão. Tem que ler a entrelinha. Muita pesquisa, de comportamento, de pessoas. O mundo. Também é muito ligado a eventos. Tem que ter bases em antropologia. Há muitas viagens, precisa conhecer profundamente o mercado em que trabalha. Ter alinhamento muito grande com equipes comerciais, clientes, precisa estar em contato com as pessoas".
Maria Paula Machia, gerente de marketing Cipatex

 
Como iniciar na área de jornalismo de moda?
Mariane Cristine Brandão Tomaz - SP
 
"Apesar da obrigatoriedade pelo diploma de Jornalismo ter caído, a formação nesta graduação ainda é o ponto inicial para trabalhar com jornalismo de moda. A grande maioria das empresas de comunicação levam em conta este pré-requisito, se mantendo de acordo com o Sindicato dos Jornalistas. Na faculdade, se aprende técnicas como a construção de uma pauta, entrevista, checagem, tipos de texto... Também se é instigado a escrever criativamente para qualquer que seja o segmento. O desdobramento de trabalhar com moda, política, economia, cultura ou tantas outras editorias vem na sequência. Aí é correr atrás de ler sobre história da moda, estilistas, criação, inspiração, matérias-primas... aprender terminologias, visitar empresas (há muito trabalho e pessoas atrás da passarela), praticar, praticar e praticar. Se aparecer oportunidade de fazer extensões ou pós em moda, ótimo. Então será hora de buscar estágios, com possibilidades de veículos, mas hoje também muito aberto ao "faça você mesmo" dos blogs pessoais, assessoria dentro de empresas, redes sociais, revistas e blogs para marcas."
Aline Ebert, editora-chefe Grupo UseFashion
 
 

Fonte:|http://www.usefashion.com/categorias/noticias.aspx?IdNoticia=99195




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