Conheça o dia a dia do trabalho da costureira e saiba porque o trabalho é importante para as confecções.
A arte de costurar é antiga. Segundo dados do site Wikipedia, foram encontradas agulhas primitivas feitas com ossos e marfim, datadas de mais de 30 mil anos. Há anos foi descoberta a cidade de Çatal Hüyük e junto foi revelado que ela abrigou a primeira civilização que se preocupou com roupas por motivos estéticos, valorizando a costura. Antes se acreditava que os sumérios e os egípcios tivessem sido os primeiros a terem esse tipo de preocupação.
Ao longo dos anos, a profissão foi se desenvolvendo e apesar das dificuldades que vem enfrentando nos últimos tempos, a costureira continua sendo e sempre será peça-chave para o setor confeccionista e não é a toa que Lela Barbosa Torre, sócia da marca de moda infantil Chicletaria diz que elas são a alma do negócio. "Queremos roupas que vistam bem e tenham acabamento impecável. Nossas costureiras não são só profissionais, são pessoas qualificadas que fazem parte da história da marca, haja vista que temos costureiras que estão conosco desde o nosso início, há 30 anos!", conta.
Para Pedro Eduardo Fortes, diretor executivo do Sindivestuário (Sindicato da Indústria do Vestuário de São Paulo), a costureira é fundamental para qualquer confecção, pois sem ela não é gerado o produto. Mas como nem tudo é flores, essa profissão que é bem vista na cadeia produtiva e que leva consigo boa parte da responsabilidade sobre a qualidade do produto, não está sendo seguida pelas novas gerações. "As principais dificuldades para a contratação de costureiras é a falta de profissionais no mercado, pois a cada ano menos profissionais se voltam ao setor, procurando atividades menos desgastantes. Na confecção o trabalho é constante, intermitente, que exige qualidade, produtividade, e se outro setor oferece condições financeiras iguais, a costureira prefere mudar de ramo. Formamos profissionais, principalmente no SENAI, mas não é suficiente para atender a demanda das industrias", explica Fortes.
Qualificação profissional
Escolas em todo o país investem em cursos voltados para a área de costura, buscando o aperfeiçoamento da profissão. Um dos exemplos é a Escola de Moda Sigbol Fashion, que oferece os cursos de Piloteira e de Costura e Acabamento em vários níveis. "De um modo geral, em todos os cursos da área de Modelagem e Costura, o aluno aprende a costurar peças de acordo com o objetivo do curso. Buscamos fazer com que o aluno entenda o processo de fabricação da peça do vestuário do princípio ao fim, além de se familiarizar com os aparelhos e acessórios de máquinas, que possam facilitar e agilizar a produção, proporcionando qualidade na costura", conta Aluízio Freitas, diretor da escola.
Aluízio acredita que quanto melhor qualificado o profissional, maior a possibilidade de obter uma vaga na hora da contratação. "É importante que a costureira, além de saber costurar, conheça também tecidos, máquinas e seus respectivos acessórios, montagem das peças, e até mesmo a modelagem, pois isso certamente fará a diferença numa trajetória profissional".
O SENAI de Santa Catarina também oferece cursos profissionalizantes voltados para quem tem interesse em ingressar na profissão ou se atualizar. Evelina Bauler, diretora adjunta do SENAI em Blumenau, acredita que a principal dificuldade das costureiras é com o passar dos anos, já que as profissionais estão se aposentando e os jovens que estão iniciando suas profissões não querem mais ser costureiros ou costureiras, ou seja, para eles é mais importante dizer que são secretárias ou balconistas, do que serem costureiros.
Santa Catarina conta com 6.415 confecções de artigos de vestuário e acessórios e 49.250 operadores de máquinas para costura de vestuário, segundo fontes do MTE - RAIS 2008. Diante deste cenário, a proposta do SENAI no estado é oferecer condições de competitividade ao setor industrial e de empregabilidade aos trabalhadores. "Se há demanda por determinado profissional, como é o caso das costureiras, nós realizamos os cursos. É um benefício para empresas e trabalhadores", diz Bauler.
O Sindvest Maringá também se preocupa com a formação de suas costureiras e realiza mensalmente cursos, palestras e treinamentos, visando o crescimento das indústrias e a profissionalização do setor na região. "Contamos com uma parceria com o SENAI de Maringá e com a Prefeitura para a qualificação gratuita de mão de obra", enfatiza Carlos Roberto Pechek.
O que dizem as peças-chave das confecções?
Geralmente trabalhar com costura surge de uma necessidade financeira ou até mesmo por puro hobby. Um grande exemplo é a costureira Maria Edna Leite Machado, que trabalha com costura há 20 anos e há 4 possui sua própria oficina. "Sempre tive vontade de aprender a costurar e ficava curiosa quando via os outros costurando. Eu adoro costurar e quero me aperfeiçoar mais, por isso estou fazendo um curso de Corte e Modelagem na Sigbol, aos sábados". O dia a dia de trabalho de Maria Edna é sempre corrido. "Retiramos nas confecções do Brás com quem trabalhamos os tecidos já cortados, e quando as peças ficam prontas, entregamos para eles. A oficina funciona das 7h00 às 17h00, mas eu sempre fico um pouco mais, até finalizar o serviço do dia. Além de costurar, ainda cuido de casa e das crianças". Apesar da correria, a costureira não esquece da qualidade. "As confecções buscam numa costureira perfeição nas peças, a costura não pode ser malfeita e o local de trabalho tem que estar sempre limpo".
Maria de Fátima Araújo Barroso, costureira e gerente da confecção Yinveja, trabalha como costureira há 30 anos. "Não foi uma escolha, na verdade comecei como ajudante numa empresa de costura e no segundo dia de trabalho o proprietário me passou para a função de costureira e aí fui aprendendo aos poucos". Fátima, que não gosta muito de costurar, diz que fica satisfeita quando vê o resultado de seu trabalho. "Tem dias que trabalho muito e outros que são mais calmos. Trabalho de segunda a sexta-feira e costuro o dia todo, pois a roupa já vem cortada. Quando passo o dia todo costurando, à noite ainda sonho que estou trabalhando e no outro dia já acordo cansada".
O que as confecções esperam do profissional da costura?
A cidade de São Paulo conta com cerca de 4.500 confecções, sendo 87% de micro e pequeno porte, tendo até 50 profissionais em seu quadro de funcionários. Entre elas estão a Chicletaria, a Yizzia e a Ynveja, que conhecem bem as dificuldades em encontrar profissionais, já que com a falta de procura, cresce a demanda. Lela Barbosa Torre, sócia da Chicletaria, grife de moda infantil, procura costureiras caprichosas e atentas aos detalhes, já que costuras bem acabadas e elaboradas costumam encantar os clientes. "Somente com peças bem costuradas é que nós conseguimos nos diferenciar de outras confecções, portanto a costureira é importante para o sucesso de uma marca". Lela ainda diz que a dificuldade está exatamente em encontrar profissionais com esses traços de personalidade, ou em treinar as demais para que primem pelos detalhes e acabamento perfeito. "Só profissionais totalmente comprometidos conseguem cumprir essa exigência".
Laura Chang, diretora da Yizzia, espera das costureiras que trabalhem com ela, carinho e cuidado especial em relação à marca. "Só consigo trabalhar com bom relacionamento com elas e principalmente com muito respeito. O que nós buscamos são profissionais que trabalham para elaborar peças perfeitas, reunindo estilo, beleza e qualidade, já que são muito importantes no processo".
Ronildo Pereira de Araújo, sócio-proprietário da confecção Ynveja espera das suas costureiras mão de obra de qualidade, com bom acabamento, serviço limpo e bem feito, além de rapidez na entrega. "A principal dificuldade que enfrentamos hoje é encontrar costureiras. Pelo que tenho observado, a costureira está em extinção. Os jovens não se interessam pela profissão".
O representante das cerca de 1.200 indústrias confeccionistas de Maringá e região, no Paraná, através do Sindvest Maringá (Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá e Região), Carlos Roberto Pechek, presidente da entidade e proprietário da Chek Confecções e da Zapp Confecções, afirma que as confecções necessitam de profissionais que conheçam, pelo menos, o básico da costura, como colocar linha na máquina, saber manusear mais de um maquinário e, principalmente, gostar da profissão e ser comprometido. "O setor é carente de mão de obra qualificada. Desta forma, uma costureira capacitada não encontrará dificuldade em arrumar emprego". Hoje Maringá e região contam com aproximadamente 18 mil costureiras. Apesar disso, ainda existem em torno de 2 mil vagas para o cargo de costureira nas cidades.
Representante em São Paulo
Representante de peso da profissão, o Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, que surgiu como uma associação de trabalhadores que atuavam na indústria de costura de São Paulo, e em 17 de setembro de 1952, recebeu a Carta Sindical oficializando a entidade como Sindicato, defende os interesses da categoria. Eunice Cabral, presidente do Sindicato, é também presidente da CONACCOVEST/Brasil (Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, de Vestuário, de Couro e Calçados); vice-presidente da Força Sindical; vice-presidente das Américas da International Textile, Garment & Leather Workers Federation; entre outros cargos importantes. "O Sindicato oferece cursos de qualificação; orientação na questão de saúde e segurança no trabalho; palestras; orientação quanto aos direitos e deveres do trabalhador; encontros mensais no Sítio Escola, em Mogi das Cruzes; e assistência médica", conta Cabral.
Em São Paulo, conforme Lei nº 14485, da Câmara Municipal de São Paulo, sancionada em 19 de julho de 2007, o Dia da Costureira é comemorado em 17 de setembro e não no dia 25 de maio, como diz o calendário nacional. Eunice Cabral diz que o Sindicato está lutando para tornar a data em setembro reconhecida nacionalmente.
Pisos salariais em São Paulo e em Maringá
Em São Paulo, os pisos salariais das costureiras são: Entrante R$ 520,00; Não Qualificado R$ 583,15; Qualificado R$ 766,12; e Diferenciado, que engloba as funções de costureira piloteira, riscador, encaixador, operador de máquina de corte, operador de CAD/CAM, estilista e modelista, R$ 850,65. "Hoje o piso da categoria Costureiras é um dos maiores do país e o nosso piso em São Paulo, do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, no setor, é o mais alto do Brasil", destaca Eunice Cabral.
Pedro Fortes acredita que a profissão é valorizada. "Procura-se dentro do possível, dentro da realidade do mercado, prover de remuneração compatível com outras categorias, procura-se estender benefícios, desde que o custo seja compatível com o preço a ser absorvido pelo mercado".
Em Maringá, segundo a convenção coletiva do setor, o piso salarial da profissão é de R$ 600,00.
SAIBA ONDE ESTUDAR A ARTE DA COSTURA:
São Paulo
Sigbol Fashion - (11) 5081-6361
SENAI Vestuário - (11) 3361-3787
Instituto da Costura - (11) 3842-7060
Minas Gerais
SENAI MODATEC - (31) 3484-9902
Santa Catarina
SENAI SC - (48) 3231-4100
Pernambuco
Escola Técnica SENAI Caruaru - (81) 2103-2775
Paraná
Escola Técnica de Corte e Costura Kaefer - (41) 3222-0291
SENAI Paraná (Umuarama) - (44) 3626-8478
Goiás
Escola de Corte e Costura Exato - (62) 3941-0118
Fatec Senai Roberto Mange (Anápolis) - (62) 3902-6200
Rio de Janeiro
Esca (Escola de Costura e Artesanato) - (21) 3826-1847
SENAI / CETIQT - (21) 2582-1001