Idoso é o novo desafio para indústria da moda "Eu estou vestindo uma bermuda e por isso as pessoas olham para mim espantadinhas", conta Marilda Ferraz, 75. Um vestuário à altura da vida atarefada é algo que mulheres como ela, acima dos 50 anos, consideram imprescindível. Mas não costuma ser uma tarefa simples encontrá-lo. A velhice, se não chega a ser um tabu para a indústria da moda, é praticamente ignorada por ela.
"Tomamos cuidado com o corpo, com o cabelo, com a maquiagem. Mas na moda existe um exagero: ficamos com cara de velhinha, ou então de velhinha querendo parecer menina", diz Marilda.
O Instituto de Estudos e Marketing Industrial de São Paulo (Iemi) faz pesquisas de mercado nos setores de vestuário, calçados e móveis para que os lojistas entendam melhor o comportamento do consumidor. Marcelo Prado, 46, diretor do instituto, aponta uma maior participação de pessoas acima dos 65 anos no setor da moda. Segundo ele, não houve um aumento só na população de idosos, mas também em seu poder de compra.
"Existe uma predisposição para que os idosos se tornem a grande fatia do mercado a partir de 2030. Ao fazer moda para terceira idade podemos mudar a modelagem, o decote, mas temos que manter os estilos da estação, as cores, os tecidos etc.", afirma Prado.
Marilda vai ao cabeleireiro, dirige, trabalha e consome. "Eu me sinto integrada à sociedade. Daqui a algum tempo, tudo o que faço, que hoje ainda é considerado surpreendente, será visto com naturalidade", diz. Ela se refere não só ao envelhecimento da população brasileira, mas também a uma mudança no perfil da terceira idade.
Pedagoga há 40 anos, Marilda divide a semana entre São Paulo, onde trabalha e pratica ioga, e sua cidade natal, Guaxupé (MG), onde vive o marido. Percorre o trajeto de 300 km de ônibus. "Minhas amigas trabalham para complementar a aposentadoria e fazem cruzeiros para todo canto." E avisa as mais novas: "Quando chegar a vez de elas envelhecerem, terão muito mais obrigações".
COMENDO MOSCA
Apesar de todas essas mudanças, o desenvolvimento de vestuário voltado para esse público ainda é um movimento embrionário na indústria da moda.
Segundo Patricia Sant'Anna, 37, pesquisadora do Grupo de Estudos em Arte, Design e Moda da Unicamp, esse público alvo é muito difícil de satisfazer. "O cliente não pode ser chamado de velho. Temos que reinventar um nome, uma ideia de elegância e propor isso de maneira sutil. Não querem ser excluídos do universo da moda e nem uniformizados por um figurino da terceira idade."
Em entrevista à Folha, o estilista Ronaldo Fraga, 45, diz que não existe moda para terceira idade. "Era muito comum senhorinhas entrarem na loja e dizerem que iam comprar roupa para suas netas. Mas, na verdade, estavam comprando pra elas mesmas."
Em 2009, Fraga fez a coleção Risco de Giz que foi apresentada na São Paulo Fashion Week por idosos e crianças. Para ele, o desfile significou mais: "Vivemos num país tão jovem que uma pessoa se torna invisível para a sociedade depois que faz 65 anos. O que nós estamos fazendo com os nossos velhos? Como queremos envelhecer?".
O fashionista americano Ari Cohen retrata senhoras de Nova York com um estilo diferenciado em seu blog Advanced Style (estilo avançado, em tradução livre) e comenta: "A indústria da moda está aberta a todos. As mulheres mais velhas que eu conheço ainda fazem compras e leem revistas de moda. A publicidade pode ainda tentar convencer as pessoas de que ser jovem é melhor, mas eu acho que usar modelos mais velhas diria algo de bom sobre a qualidade da marca."
Ronaldo Fraga concorda. "Se a moda não quiser olhar para os idosos pelo olhar humanizador, de inclusão, que seja pelo econômico: A indústria está comendo mosca."
NAS RUAS
A reportagem visitou a rua Oscar Freire -point paulistano para fãs da moda- em uma manhã de terça-feira para observar como mulheres com mais de 50 anos se vestiam. Concluiu que elas não fazem feio e adotam os mais diferentes estilos.
Com a saia longa rosa-choque e cabelo preto curtíssimo, Miriam Morato, 63, se considera descontraída "inclusive na hora de se vestir". Seu estilo, ela diz, é aquele que consegue misturar peças rústicas e chiques. Já Maria Noemi, 78, é também adepta das cores fortes, mas no estilo color block. Ao saber da intenção da reportagem, nos disse, orgulhosa: "Eu já sou convencida, agora vou ficar mais ainda".
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