Lin Chang Jie luta para salvar a empresa da família, de confecção de toalhas, travesseiros e tecidos, na cidade de Ningbo, no leste da China. A principal ameaça que ele enfrenta é a oferta cada vez menor de trabalhadores, o que o obriga a pagar salários maiores. "Preciso encontrar uma nova forma", diz Lin, de 29 anos. Ele tenta transformar sua Dejin Textile em uma empresa varejista de moda na internet, para poder encolher o quadro de funcionários e evitar fechar as portas. "Os salários sobem, sobem e sobem", diz. "Se não gostamos do trabalho de alguém, não podemos dizer nada, para que não saiam."
Indústrias como a de Lin estão presas em uma armadilha demográfica. A China instituiu a política de filho único em 1979 para conter o crescimento populacional e promover a prosperidade das gerações seguintes. O efeito colateral dessa política foi o declínio acelerado na mão de obra jovem e de baixa capacitação que serve de principal pilar para as fábricas da China continental produzirem mercadorias de baixas margens, como roupas, brinquedos e móveis. As projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que o país está em um ponto de virada: no período de 15 anos até 2025 o número de pessoas com 15 a 24 anos cairá em 62 milhões, ou 27%, para 164 milhões de pessoas.
A pressão de alta dos salários decorrente disso obriga as empresas do continente a elevar sua qualificação, para fabricar produtos de maior valor, como ocorreu no Japão entre os anos 60 e 70. A China pode ter, talvez, apenas cinco anos para concluir essa transição e evitar a queda no crescimento econômico, segundo Mingchun Sun, analista da Daiwa Capital Markets, em Hong Kong, e ex-economista da Administração Estatal de Câmbio (Safe, em inglês), agência que faz parte do banco central chinês. O crescimento pode desacelerar-se entre 2016 e 2020, com a quebra das empresas de produtos de baixo custo e o declínio nos investimentos.
"Esse é o grande problema na China, o problema ao redor do qual tudo vai girar", afirma Barry Eichengreen, professor de ciência econômicas na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Ex-assessor político do Fundo Monetário Internacional (FMI), Eichengreen é um dos autores do livro "Emerging Giants: China and India in the World Economy" (gigantes emergentes: China e Índia na economia mundial), lançado no ano passado. "A China realmente precisa acelerar essa transição", diz.
Até agora, foi lenta: os produtos que não são classificados como sendo de alta tecnologia, entre os quais roupas, calçados e móveis, representaram 68% das exportações em 2010, o que equivale a cerca de US$ 1,09 trilhão, com pouca variação em relação a 2005, quando eram 71%. As exportações na China representam mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), mais que o dobro do verificado nos EUA.
Apenas cinco economias - Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura - deixaram de ser países de renda média para ganhar o status de país desenvolvido e conseguiram manter taxas de crescimento relativamente elevadas, de acordo com o prêmio Nobel Michael Spence, professor de ciências econômicas da Stern School of Business, da Universidade de New York. Em recente relatório, o Morgan Stanley relacionou o crescimento de renda e fase de desenvolvimento econômico da China ao cenário no Japão de 1969 e na Coreia do Sul de 1988.
Embora a maioria das empresas da China ainda precise subir um degrau, indústrias avançadas, como a de aviação, instrumentação médica, software, computadores e telecomunicações, vêm se consolidado, auxiliadas por incentivos governamentais. De fato, as exportações de alta tecnologia mais do que dobraram desde 2005 e somaram US$ 492 bilhões em 2010. Em agosto, o governo divulgou planos para criar uma zona especial, abrangendo nove cidades no delta do rio Pérola, para ajudar no aperfeiçoamento das empresas. "O desenvolvimento tecnológico decidirá o futuro da China", escreveu o primeiro-ministro do país, Wen Jiabao, em artigo publicado em agosto no "Quiushi Journal", revista do Partido Comunista.
Cai Fang, membro do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, diz que a liderança da China ainda não aceitou totalmente que o chamado "dividendo demográfico" está se exaurindo. Ele se refere aos benefícios econômicos que um país desfruta depois do declínio nos índices de natalidade - quando, por algumas décadas, há uma maior proporção de cidadãos em idade de trabalho e menor necessidade de investimentos com filhos e educação. Cai, que é diretor do Instituto de População e Economia do Trabalho, na Academia Chinesa de Ciências Sociais, diz que assessores estão tranquilizando as autoridades chinesas e levando-as à complacência, sob os argumentos de que o dividendo pode durar 20 anos ou mais.
Fonte:http://www.valor.com.br/internacional/1004702/politica-de-filho-uni...
Nenhum comentário:
Postar um comentário