Mobilização na rua Oscar Freire, em São Paulo, teve carro de som, discursos e passeata com faixas em português, inglês e espanhol.
Investigação do Ministério do Trabalho identificou empregados em condições de insalubridade e situações análogas à escravidão em confecções
AméricaEconomia
Compartir
São Paulo. Denúncias do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), veiculadas pela imprensa recentemente, jogaram os holofotes sobre o uso de mão de obra irregular de trabalhadores sul-americanos na confecção de roupas que recebem etiquetas de grifes famosas. Mais do que render autos de infração ou exigir readequações das marcas, a ação inspirou mobilizações, que devem se estender pelos próximos dias. A investigação também embasará a pauta das discussões que antecedem a convenção coletiva da categoria, em 1º de setembro.
Nesta sexta-feira (26), o Sindicato dos Comerciários de São Paulo promoveu um ato de repúdio ao trabalho escravo e infantil em uma das ruas mais badaladas da cena fashion paulistana: a Oscar Freire, no bairro dos Jardins (zona sul). Segundo a entidade, o movimento reuniu cerca de 500 pessoas (segundo a PM, foram cerca de 200), com direito a carro de som, discursos e passeata de trabalhadores do setor, com faixas em português, inglês e espanhol. Poucas lojas fecharam as portas.
“Escolhemos a rua Oscar Freire pelo glamour que ela representa. Queremos promover a conscientização. Estamos empenhados em extirpar a mão de obra escrava ou infantil”, afirma o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah.
O sindicato questiona as condições de insalubridade em que foram flagrados os trabalhadores que produzem peças depois comercializadas por grandes varejistas da moda, como Zara, Gregory, Brooksfield, Billabong, Tyrol, Ecko e Cobra d´Água. A entidade aponta a existência de locais insalubres, com iluminação precária, sem ventilação, segurança e higiene, além de a alimentação ser realizada em péssimas condições. Em muitos casos, esse local inadequado de trabalho também serve de moradia.
Patah destaca que muitos desses trabalhadores não recebem saláro. “Em geral, são bolivianos e paraguaios, que recebem de R$ 1 a R$ 2 por produção, trabalham 12 horas por dia, para que essas peças sejam vendidas pelas lojas por valores 100 vezes maior. Não somos contra o lucro, mas essas roupas estão maculadas pelo sangue e suor desses trabalhadores. É um absurdo isso acontecer na maior cidade da América Latina. Do mesmo jeito que não gostamos quando brasileiros sofrem problemas em países como Espanha ou Portugal, não podemos aceitar que aconteça esse tipo de coisa com nossos irmãos sul-americanos.”
O sindicato prevê ainda outras ações. Na terça-feira (30), fará panfletagem no Shopping Ibirapuera (zona sul), onde se concentra um grande número dessas marcas que entraram na mira do MTE. “No dia 31, também teremos uma reunião para tratar de cláusulas sobre trabalho escravo e infantil que entrarão na coletiva, de forma a tentarmos diminuir a vulnerabilidade desses grupos. Além disso, nossos militantes estão fazendo denúnicas de locais onde há indícios dessa situação [trabalho irregular]”, diz o presidente da entidade.
De acordo com Patah, uma das metas dos comerciários é conseguir acordos como o que foi fechado recentemente com 2.500 profissionais que trabalham nas obras do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, batizado de “Jogo Limpo”, para a categoria em todo o Brasil.
Entre outras coisas, a UGT conseguiu ampliar as condições de segurança, com perícias periódicas dos sindicatos e de empreiteiros para diminuir os riscos de acidente de trabalho, aumentar o valor da cesta básica (de R$ 100 para R$ 160), garantir estabilidade de emprego para a comissão que negociou os benefícios, igualar as condições de assistência médica, estendendo o benefício também para os familiares e assegurar a antecipação salarial.
FONTE: http://brasil.americaeconomia.com/notas/denuncia-de-trabalho-escrav...
Nenhum comentário:
Postar um comentário