Independentemente dos tempos serem bons ou maus, a China continua a mover-se inexoravelmente para cima. Se esta tendência continuar, a China assumirá o controlo de todo o sector, deixando aos restantes os restos que as suas empresas não podem ou não querem produzir.
As perguntas são: porquê e o que podemos fazer para travar a China?
A resposta não faz sentido. Somos informados que é uma questão de preço: a China mantém a sua posição dominante porque os subsídios ilegais do governo permitem que as fábricas chinesas exportem peças de vestuário a preços FOB abaixo dos custos reais.
Os críticos argumentam que, se o governo chinês fosse obrigado a retirar os subsídios, os preços FOB da China aumentariam, o que permitiria que outros países exportadores de vestuário competissem mais eficazmente contra os seus homólogos chineses.
Como a maioria das meias-verdades, a teoria da vantagem do preço-injusto é 50% acertada e 50% absurda. É certamente verdade que o Governo chinês subsidia as fábricas chinesas. Também é verdade que, até muito recentemente, os preços do vestuário produzido na China estavam a cair.
No entanto, o facto é que os preços FOB da China já começaram a subir, corroendo qualquer vantagem de preço que existisse. No entanto, a quota de mercado da China continua a aumentar.
Mais revelador é o facto de que a quota de mercado da China continua a crescer mesmo em produtos como t-shirts, onde os seus preços FOB possuem um prémio substancial em relação à média mundial.
A resposta à pergunta porquê, não reside no preço, mas sim no produto e no mix de produtos. Ironicamente, os concorrentes da China competem uns com os outros. Eles não concorrem com a China.
As importações de vestuário dos EUA são dominadas por quatro grandes produtos básicos que correspondem a 45% das importações de vestuário dos EUA. Dos quatro grandes, dois – as t-shirts e as calças de algodão – são responsáveis por 36% do total das importações de vestuário, enquanto os dois seguintes – as camisas de tecido e a roupa interior – são responsáveis por 9%. Estes quatro produtos dominam as exportações de nove dos dez maiores fornecedores de vestuário dos EUA e esta é a área onde eles competem.
Ao contrário dos outros países, o sector de vestuário da China é diversificado. As exportações dos quatro grandes produtos, embora importantes, não dominam as exportações chinesas de vestuário. Enquanto os outros países exportadores de vestuário estão ocupados a lutar entre si por uma quota de mercado nos quatro grandes produtos de base, estão a deixar a China dominar sozinha outros produtos.
A evolução da quota da China no mercado norte-americano espelha uma realidade cada vez mais avassaladora sobre a mudança do comércio internacional de vestuário. Com base nos dados em análise, a quota chinesa no mercado dos EUA em 2010 deverá ultrapassar a barreira dos 40%.
Conforme ficou patente ao longo da análise realizada por David Birnbaum, o autor do The Birnbaum Report, uma newsletter mensal destinada à indústria do vestuário, o ano 2010 teve fundamentalmente um país vencedor: a China. Conforme nos relata Birnbaum neste seu artigo opinião, a resposta para este desempenho, ao que parece, é que todos os restantes produtores concorrem pelas coisas fáceis, deixando o resto para os chineses.
Produtos da China
Ao longo do ano passado, até Outubro de 2010, as importações dos EUA provenientes da China somaram 23,7 mil milhões de dólares. Desse montante, 3,8 mil milhões de dólares (16%) foram divididos entre os 40 produtos em que a participação da China no mercado dos EUA encontrava-se entre 67% e 98%, dando à China o monopólio virtual.
Uns adicionais 7,3 mil milhões de dólares (31%) foram divididos entre os 24 produtos em que a participação da China no mercado dos EUA foi entre 50% e 65%, dando à China o domínio do mercado. No total, 54% das exportações chinesas de vestuário são nos produtos em que as importações dos EUA são agora controladas pela China.
Imagine que está no negócio de camisolas e deseja importar blusas femininas de lã. Pode ir para a China (87% da quota de mercado). Pode ir para a Itália (6% da quota de mercado), o que é uma óptima alternativa, se for Giorgio Armani ou Ralph Lauren. Depois tem o Reino Unido (1% da quota de mercado), seguido pelo Peru (0,6% da quota de mercado), que produz boa lã de alpaca mas pouca lã de ovelha. Vamos ser sinceros, para todos os efeitos práticos, a sua escolha é: China, China ou China.
O que vale para as blusas de lã para mulher é igualmente verdade para blusas de algodão, blusas de malha em lã, fatos de lã para mulher, casacos sintéticos de uso masculino e 36 outros produtos. Para esses 40 produtos, não importa se os preços aumentarem substancialmente. Tem que ficar com a China, porque nenhum outro país fornece esse produto.
Alguns podem argumentar que grande parte dessa vantagem é devida ao acesso da China a matérias-primas nacionais, especialmente seda (77% de quota do mercado norte-americano) e linho/ramie (82% do mercado). No entanto, este não é o caso. A Índia produz seda, mas apenas detém uma quota de mercado de 4% nos EUA. A Tailândia é famosa pela seda, mas responde por menos de 1% do mercado norte-americano.
O mesmo se verifica para outras fibras vegetais, que incluem linho, ramie e outras fibras relacionados. A China monopoliza este mercado usando ramie. No entanto, outras fibras muito melhores, são cultivadas em todo o mundo: cânhamo (Canadá e França), juta (Índia e Bangladesh) ou sisal (México, Caribe, Quénia e Tanzânia).
Estas fibras existem, mas nenhum destes países está a desenvolver os esforços necessários para competir no mercado de milhares de milhões de dólares do vestuário com outras fibras vegetais.
A lã é o exemplo mais importante. O vestuário de lã é um negócio de exportação de mais de 3 mil milhões de dólares. Mais importante ainda, é uma fibra que a China, como todos os outros, tem de importar. No entanto, se quiser importar roupas de lã tem poucas opções. Pode ir para a China (55% da quota de mercado). Depois tem a Itália (12% de quota de mercado), México (5% de quota de mercado), Canadá (quota de mercado de 3%) e Vietname (3% de quota de mercado).
Para os fatos e casacos de homem, o México e o Canadá oferecem produtos de boa qualidade a preços muito competitivos. Para tudo o resto, mais uma vez, apenas resta: China, China e China.
A China controla ou praticamente monopoliza as importações dos EUA de 64 produtos que, ao longo do ano até Outubro de 2010, teve um total FOB superior a 21 mil milhões de dólares. Esta é uma forma de domínio da China sobre o sector de vestuário mundial.
A segunda base é a qualidade do produto. Por que pagaria um cliente à China 3,88 dólares por uma t-shirt de algodão, quando a mesma t-shirt de algodão está disponível a partir do Paquistão por 2,46 dólares, a partir de El Salvador por 1,69 dólares e das Honduras por 1,57 dólares?
A resposta é que não se trata da mesma t-shirt. As t-shirts fabricadas no Paquistão, El Salvador e Honduras são produtos básicos que concorrem com o Bangladesh, África Subsariana e outras indústrias de exportação de vestuário em países menos desenvolvidos. Mas a t-shirt fabricada na China é um produto de moda de qualidade. A nomenclatura para efeitos de tarifa é a mesma, mas os produtos são muito diferentes.
Travar a China
A China mantém a sua posição dominante não através da manipulação injusta ou ilegal da moeda, ou outras subvenções desleais, mas porque os outros – os potenciais concorrentes da China – afastaram-se dos principais produtos de exportação da China.
É muito mais fácil fazer t-shirts e jeans de 5 bolsos baratos do que blusas de lã e casacos. As encomendas são maiores, os trabalhadores exigem menos competências e o investimento de capital é muito menor, que é precisamente por isso que todos os países do mundo estão a competir para produzir estes produtos. Todos concorrem para produzir as coisas fáceis, com o resultado de que o preço continua a cair. No entanto, o lucro está nas coisas difíceis que todos deixaram para a China.
Cabe-nos desenvolver a nossa indústria para competir eficazmente numa base de produto a produto com a China. Não temos outra alternativa. Se de facto a China conseguir sequestrar o sector global do vestuário, não vale a pena culpar os outros. Temos apenas de nos culpar a nós mesmos. Somos todos cúmplices da China.
Fonte:portugaltextil.com
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