sábado, 24 de julho de 2010

Em linha com a qualidade


A escolha acertada da linha para cada tipo de costura é decisiva para a qualidade do produto final, proporcionando eficiência e redução nos custos


Talvez pelo fato de as linhas de costura responderem por apenas 2% a 3% do total do custo da produção – uma porcentagem pequena se comparada à de outros materiais que compõem uma peça –, confeccionistas e faccionistas dão pouca atenção a elas na hora da compra e acabam utilizando linhas em desacordo com o tecido, o tipo de costura, o maquinário e a lavagem, entre outros aspectos.

O que muitos empresários se esquecem de considerar é que linhas oriundas de substratos mais baratos ou inadequados ao tecido geram uma série de custos diretos, entre eles as quebras, falhas e má aparência de pontos, franzimento, pontos danificados e/ou encolhimento da linha. Isso sem falar nos custos não apurados, tais como a energia elétrica gasta no arranque dos motores e o aumento dos custos de manutenção das máquinas, desgastes dos equipamentos, além da insatisfação das costureiras e dos mecânicos com a baixo rendimento da costura.

É claro que problemas como esses podem não ocorrer em função da linha. Podem ser ocasionados também por produtividade baixa, máquinas desreguladas, uso de agulha não ideal para a linha ou outros fatores. “Mas o importante é estar tudo em acordo, desde a entrega e a escolha das matérias-primas à satisfação do funcionário”, atenta Renato Libonati, o diretor-operacional da Libofio, fábrica de linhas e fios de poliéster sediada em São Paulo.

Ou seja, todos os fatores têm importância na qualidade final da costura, mas é bom dar especial atenção às linhas, principalmente por serem um insumo que representa tão pouco no custo e que, se mal escolhido, pode ocasionar em diferenças significativas na produtividade e na qualidade final do produto.

Opções de escolha

Mas, antes de pensar em qual tipo de linha escolher, é preciso analisar a necessidade de cada máquina a ser utilizada e com quais tecidos se vai trabalhar, além dos processos pelos quais esses tecidos (e linhas) passarão até estarem prontos para a venda. Pois de nada adianta utilizar uma linha de ótima performance num maquinário simples, pois isso pode resultar em prejuízo.

Basicamente, são quatro níveis de linhas: de poliéster, de algodão, mista e de poliamida; e, a partir dessas, existem as variações: mista poliéster algodão e poliéster/poliéster, 100% poliéster fiado, 100% algodão, 100% poliéster multifilamento contínuo brilhante trilobal, 100% poliéster filamento contínuo texturizado, poliéster filamento contínuo e, por fim, a de poliamida.

“Observamos que, atualmente, existe uma tendência de migração da linha de dupla torção para a mista, por conta da construção que esta última tem: uma mistura de filamento contínuo de poliéster de alta resistência com uma cobertura de fibras descontínuas de algodão ou poliéster, o que gera maior resistência e ótima qualidade na produtividade”, diz Libonati. Segundo ele, o cliente, principalmente as pequenas confecções sem muita experiência e/ou que não pesquisam muito sobre linhas, não sabem diferenciar linha mista da de dupla torção – e o mercado acaba abusando dessa desinformação para vender a mista, cujo preço pode chegar a três vezes ao da linha de dupla torção. “Faltam credibilidade e informação aos vendedores, que não são técnicos, querem mais é vender e acabam pecando nisso. Cria-se um buraco na comunicação entre a parte técnica e o cliente confeccionista’, atenta Libonati.

Tudo em acordo

Portanto, conhecer, pesquisar e saber as vantagens, desvantagens e aplicações adequadas para cada tipo de linha fazem com que a costureira atinja um nível de produção que potencializa o investimento nela e no maquinário.

Para Flaviano do Carmo Rocha, gerente-comercial da fabricante Linhanyl Paraguaçu, de Minas Gerais, escolher o tipo correto de linha depende, efetivamente, do tipo de matéria-prima do tecido. “Para costura de tecido 100% de algodão que seja posteriormente tingido, deverá ser usada uma linha também de 100% algodão, que absorverá o mesmo tom do corante utilizado”, exemplifica. “Já na costura de lingerie, em que as peças apresentam bastante elasticidade, o ideal são as linhas de construção mista, que proporcionam melhor formação do ponto, redução de problemas de franzimento, além de possibilitarem a utilização de agulhas mais finas e costuras mais estáveis, com aparência mais regular”, completa.

É preciso ainda eleger o tipo de linha adequado para o tipo de ponto que será empregado. Fios texturizados proporcionam maior alongamento e toque e são indicados para operações com loopers em máquinas galoneiras, overloques e interloques com alta produtividade; linhas mistas oferecem melhor equilíbrio na proporção entre resistência e espessura; linha de poliéster, atualmente a mais utilizada pelas confecções, tem um processo produtivo mais simples, com menor custo de produção, e é empregada amplamente nas malharias e em jeanswear.

Evitando prejuízo

Nas calças jeans, sobretudo, um dos maiores custos “escondidos” é o reprocesso, efetuado após lavagens/acabamentos industriais, que em muitos casos alcança até 40% da produção de determinados modelos. “As linhas de costura podem ser uma das principais causas desses retrabalhos, pois, se sua qualidade for inferior à do denim, pode sofrer mais com as lavagens e outros processos”, explica o manual técnico de calça jeans da Coats Corrente, fabricante de linhas para costura, bordado, crochê, tricô, zíperes, entretelas e acessórios.

Para evitar esses custos desnecessários, há linhas com maior resistência que reduzem sensivelmente o índice de reprocessos, ao proporcionarem redução de pontos rompidos e danificados, o que minimiza os custos com retrabalhos, mão-de-obra e evita atrasos nas entregas de pedidos. Além desse, outro fator que causa bastante prejuízo ao confeccionista é a ruptura da linha de costura (veja box).

Ruptura da linha: problemas e soluções

1- A linha não desenrola do cone: verifique se o guia superior está discretamente acima do pino do cone, 2,5 vezes a altura do cone. Use um coxim de espuma ou similar para impedir a trepidação do cone;

2 – Enrolamento da linha ao redor das guias: recoloque e repasse a linha pelas guias;

3 – Tensão excessiva: regule corretamente a tensão;

4 – Superfície áspera da chapa da agulha, caixa da bobina, lançadeira: recomenda-se polir as superfícies ásperas ou substituir as peças;

5 – Linha desfiada na agulha: utilize agulhas com diâmetro adequado à bitola da linha; procure utilizar sempre agulhas de qualidade reconhecida pelo mercado;

6 – Superaquecimento da lançadeira: verifique se há suprimento adequado de óleo. Examine a folga entre a agulha e a lançadeira;

7 – Linha de má qualidade: troque o material por outro de qualidade melhor e acabamento correto;

8 – Bordas afiadas do olho da agulha ou ponta cega: troque a agulha;

9 – Ajuste incorreto da agulha na barra: realinhe a agulha;

10- Aplicação incorreta de lubrificação na linha: use linha com acabamento

Fonte: Flaviano Rocha – Linhanyl Paraguaçu



Box – Linha x tecidos elásticos: como não errar

■Utilize linhas de construção mista, como a linha de filamento contínuo de poliéster recoberta com fibras de algodão ou linha de filamento contínuo de poliéster, conhecidas como poli/poli;
■As construções mistas permitem que a costura não se rompa quando submetida aos esforços inerentes à grande elasticidade do tecido strech ou power strech, devido à resistência e ao alongamento do núcleo da linha;
■A grossura (titulagem) das linhas de costura deve ser compatível com a gramatura do tecido;
■Para o conforto na utilização da peça costurada, recomenda-se o uso de grossuras (titulagens) diferentes entre a linha da agulha e a linha do looper;
■A obtenção do melhor balanceamento dos pontos (amarrações) deve-se à combinação entre a grossura da linha da agulha e a linha do looper;
■A definição do número de pontos por unidade de comprimento (densidade) é fator fundamental;
■A regulagem da tensão das linhas na máquina deve ser adequada ao tipo de ponto;
■Durante o processo de costura, não é recomendado esticar ou puxar o tecido, para não ocorrerem variações no ponto ou distorções na peça.




Fontes: Coats Corrente e Têxtil Canatiba

Nenhum comentário:

Postar um comentário