sábado, 12 de junho de 2010

Fundadores de cooperativa esperam influenciar “limpeza” das grandes marcas


Estampas de camisetas livres de trabalho escravo foram definidas em concurso que premiou sugestões de vários países; Peças podem ser compradas pela internet



14 pessoas são empregadas pelo setor têxtil da cooperativa. Os organizadores esperam que iniciativas semelhantes sejam adotadas em outras partes do mundo (Foto: RedeBrasilAtual)

Buenos Aires - Viagens nos últimos anos foram a fábrica de ideias para o passo mais ousado da cooperativa La Alameda. Em 2009, durante uma conferência em Bangcoc, Gustavo Vera, presidente da instituizção argentina, encontrou o exemplo de Dignity Returns (Retorno da Dignidade ou Dignidade Retorna, em português), da Tailândia. A cooperativa asiática nasceu em 2003 pelas mãos de trabalhadores explorados, outra vez, por marcas de grande circulação.

Apesar da barreira linguística, as semelhanças surgiram rapidamente. A internet foi o meio para um intenso contato que resultou na formação da primeira cooperativa internacional de roupas livres de trabalho escravo. No Chains, ou Sem Correntes, é o nome da marca recém-criada.

O acerto financeiro será simples e baseado na confiança: somam-se os lucros e dividem-se igualmente os ganhos entre todos os cooperados. Em La Alameda, cada costureiro tem tido uma retirada média de 2 mil pesos ao mês, em torno de R$ 1.000, podendo chegar ao equivalente a R$ 1.700 nos períodos de maior movimento. A carga é de oito horas por dia, de segunda a sexta-feira, com pagamento extra quando há uma encomenda que demanda mais trabalho. 14 pessoas estão envolvidas especificamente nesta iniciativa em solo argentino. Em uma oficina têxtil comum, a jornada nunca é inferior a doze horas e o pagamento dificilmente passa dos mil pesos. O custo de uma peça fica entre R$ 25 e 30. “Obviamente que a mão de obra e a matéria prima precisam ser pagas porque não podemos nos escravizar nessa luta contra o trabalho escravo”, resume Tamara Rosenberg, tesoureira de No Chains na Argentina e responsável por gerir a fase de fusão entre as cooperativas dos dois países.

Concurso e novas estampas
Como os recursos são escassos, a compra dos produtos de No Chains em outros países ainda não é muito desenvolvida. É preciso fazer uma encomenda via email e efetuar o pagamento também por meios eletrônicos. Movimentos sociais, inclusive os brasileiros, podem requisitar algumas camisetas para a venda pelo sistema de consignação.

Para o lançamento da marca, as duas cooperativas tiveram de repensar os temas de suas estampas. Uma ou outra dificuldade apareceu pelo caminho. Os tailandeses, por exemplo, não queriam camisetas amarelas, pois essa cor, por lá, representa o poder.
Já a definição das estampas foi feita por concurso. Desenhos enviados de Coreia do Sul, Hong Kong, Indonésia, Argentina e Estados Unidos foram os escolhidos pelos cooperados. Devido às limitações financeiras, os vencedores não recebem pagamento, mas ganham o nome nas camisetas e a divulgação do próprio trabalho.


Agora, os desafios são aumentar os pontos de venda e garantir uma demanda constante. Dessa forma se assegura uma renda fixa aos trabalhadores e a incorporação de novos cooperados. Evidentemente, a massa de mão de obra escrava existente na Argentina é muito maior que a capacidade de No Chains de absorver mais costureiros. Por isso, a criação de novas cooperativas no país e em outras partes é fundamental, inclusive podendo somar-se aos tailandeses e argentinos.

O último elo, o consumidor, também precisa tomar consciência de que tem participação fundamental nesta história. “Que cada vez mais rejeitem os produtos que não saibam a procedência. Que tenham consciência de que há grandes marcas que usam mão de obra escrava. Que não reste outra alternativa a essas marcas que não seja 'limpar' a produção”, afirma Tamara.


Fonte:redebrasilatual.com.br

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