Macchione: "Minha camisa é uma das melhores que há por aí. Mas, comparado ao que há na Europa, lamento dizer, meu produto é de segunda categoria"
Quando começou a vender camisas no pequeno escritório de seu apartamento, em São Paulo, o empresário Francisco Macchione descobriu algumas particularidades masculinas. Uma delas é que os homens escolhem a camisa pelo colarinho. "O cara olha o colarinho no espelho. Se ele dá uma arrumada, começa a puxar para um lado e para outro, é porque não gostou", comenta. "Mas se ele olha, não ajeita nada, e depois confere como ficou de perfil, a venda está feita". Nesse caso, diz, é só esperar a pergunta: que outras cores você tem?
Macchione, que trabalha com moda desde sempre e já havia produzido todos os itens do vestuário masculino, chegou a essa conclusão em meados da década de 90, período difícil, em que recomeçou na atividade vendendo camisas para os amigos.
Decidido a centrar foco apenas em camisaria, rapidamente passou a desenvolver coleções para grifes conhecidas - M.Officer, Sergio K., Ellus -, e a produção cresceu. Manteve, no entanto, uma pequena escala destinada aos amigos e conhecidos, que existe até hoje, a Uomo Woman Macchione, onde o atendimento é com hora marcada. Nela, não segue modismos e, fiel aos preceitos que considera essenciais, faz apenas peças com mangas compridas e sem bolsos. "É mais bonito", argumenta simplesmente. Mas, se o cliente faz questão, a contragosto, coloca bolsos e corta as mangas.
"Conforto e elegância não andam juntos. Impossível unir os dois", diz Macchione
Com certo humor, conta que recentemente foi procurado por um artista plástico bastante conhecido que, além das mangas curtas, queria dois bolsos enormes. "Ele trouxe a medida dos bolsos, era uma coisa ridícula, parecia uma sacola de feira. O pior é que encomendou logo três camisas do mesmo jeito. Ficou horroroso. Quando fui entregar, falei: você não vai dizer que comprou isso aqui! Eu faço essas coisas que me pedem, mas confesso que minha vontade é tirar a etiqueta".
As camisas feitas por Macchione seguem um estilo clássico, com pequenas variações nos punhos e no colarinho. Algumas de suas coleções são desenvolvidas especialmente para o exterior, para serem vendidas nas lojas de Carlos Miele, dono da M.Officer, em Paris e Nova York. Quando o assunto é Brasil, suas opiniões são bastante ácidas. Para ele, o país está 20, 30 anos atrás da indústria internacionalizada. "Houve um pequeno ápice nos anos 80, mas depois afundou. A moda pode até ter crescido, mas os equipamentos capengaram e não há boas costureiras. Embora os eventos aconteçam periodicamente e a moda brasileira seja notícia, está totalmente sucateada".
Nessa crítica devastadora, ele não poupa nem o próprio negócio. "Minha camisa é uma das melhores que há por aí. Trago fio do Egito, uso algodão bom e corto em escala industrial para manter o padrão de qualidade. Mas, comparado ao que há na Europa, lamento dizer, meu produto é de segunda categoria".
Se para o consumidor a moda de camisas parece não ter tantas variantes, para quem fabrica a mudança de silhueta tem sido constante. De dez anos para cá, prevalecem camisas cada vez mais justas, a cada estação. Macchione conta que, três anos atrás, a camisa era curta e meio seca. "Depois ficou totalmente seca, deu uma encompridada e o colarinho ficou mais alto", afirma. De acordo com ele, o terno também tem mudado. "O estilo bem agarradinho e grudado no ombro, que era considerado ridículo décadas atrás, tornou-se padrão na silhueta contemporânea. É desconfortável? Claro que sim, mas é bonito".
A camisa é a peça do guarda-roupa à qual os homens, em geral, dedicam mais atenção e a que mais vende. Macchione destaca que muitos clientes trocam três ou cinco vezes de camisa e continuam usando a mesma calça. Pela sua observação, faz parte dos hábitos masculinos substituir a camiseta pela camisa por volta dos 30 anos. Mas a troca é cada vez mais tardia. "Nos últimos anos, você vai a qualquer lugar e os caras estão todos de camiseta. Não importa a faixa etária nem o peso", queixa-se.
Menos taxativa, Lu Pimenta, coordenadora de estilo da Daslu Homem, tem uma visão semelhante quanto ao "império da camiseta" que se instituiu entre os brasileiros. Frequentadora de um clube da elite paulistana, ela diz que, para descobrir quando um homem acabou de sair de um casamento, basta olhar para a maneira como se veste nos finais de semana. "Se ele estiver sozinho, usando jeans preto e camiseta preta, pode apostar que é recém-separado. Não sei o que acontece, mas os homens brasileiros acham que essa indumentária é sinônimo de juventude", afirma.
Nos editoriais de moda masculina e na propaganda produzida pela Daslu sempre há um esforço em apresentá-los de bermuda com camisa, embora não seja um hábito brasileiro. Ela diz que, em Punta del Este (Uruguai) ou na Europa, é comum os homens vestirem camisa quando estão na praia, mas no Brasil ninguém usa. A especialista acredita que isso ocorre, em parte,
Quando começou a vender camisas no pequeno escritório de seu apartamento, em São Paulo, o empresário Francisco Macchione descobriu algumas particularidades masculinas. Uma delas é que os homens escolhem a camisa pelo colarinho. "O cara olha o colarinho no espelho. Se ele dá uma arrumada, começa a puxar para um lado e para outro, é porque não gostou", comenta. "Mas se ele olha, não ajeita nada, e depois confere como ficou de perfil, a venda está feita". Nesse caso, diz, é só esperar a pergunta: que outras cores você tem?
Macchione, que trabalha com moda desde sempre e já havia produzido todos os itens do vestuário masculino, chegou a essa conclusão em meados da década de 90, período difícil, em que recomeçou na atividade vendendo camisas para os amigos.
Decidido a centrar foco apenas em camisaria, rapidamente passou a desenvolver coleções para grifes conhecidas - M.Officer, Sergio K., Ellus -, e a produção cresceu. Manteve, no entanto, uma pequena escala destinada aos amigos e conhecidos, que existe até hoje, a Uomo Woman Macchione, onde o atendimento é com hora marcada. Nela, não segue modismos e, fiel aos preceitos que considera essenciais, faz apenas peças com mangas compridas e sem bolsos. "É mais bonito", argumenta simplesmente. Mas, se o cliente faz questão, a contragosto, coloca bolsos e corta as mangas.
"Conforto e elegância não andam juntos. Impossível unir os dois", diz Macchione
Com certo humor, conta que recentemente foi procurado por um artista plástico bastante conhecido que, além das mangas curtas, queria dois bolsos enormes. "Ele trouxe a medida dos bolsos, era uma coisa ridícula, parecia uma sacola de feira. O pior é que encomendou logo três camisas do mesmo jeito. Ficou horroroso. Quando fui entregar, falei: você não vai dizer que comprou isso aqui! Eu faço essas coisas que me pedem, mas confesso que minha vontade é tirar a etiqueta".
As camisas feitas por Macchione seguem um estilo clássico, com pequenas variações nos punhos e no colarinho. Algumas de suas coleções são desenvolvidas especialmente para o exterior, para serem vendidas nas lojas de Carlos Miele, dono da M.Officer, em Paris e Nova York. Quando o assunto é Brasil, suas opiniões são bastante ácidas. Para ele, o país está 20, 30 anos atrás da indústria internacionalizada. "Houve um pequeno ápice nos anos 80, mas depois afundou. A moda pode até ter crescido, mas os equipamentos capengaram e não há boas costureiras. Embora os eventos aconteçam periodicamente e a moda brasileira seja notícia, está totalmente sucateada".
Nessa crítica devastadora, ele não poupa nem o próprio negócio. "Minha camisa é uma das melhores que há por aí. Trago fio do Egito, uso algodão bom e corto em escala industrial para manter o padrão de qualidade. Mas, comparado ao que há na Europa, lamento dizer, meu produto é de segunda categoria".
Se para o consumidor a moda de camisas parece não ter tantas variantes, para quem fabrica a mudança de silhueta tem sido constante. De dez anos para cá, prevalecem camisas cada vez mais justas, a cada estação. Macchione conta que, três anos atrás, a camisa era curta e meio seca. "Depois ficou totalmente seca, deu uma encompridada e o colarinho ficou mais alto", afirma. De acordo com ele, o terno também tem mudado. "O estilo bem agarradinho e grudado no ombro, que era considerado ridículo décadas atrás, tornou-se padrão na silhueta contemporânea. É desconfortável? Claro que sim, mas é bonito".
A camisa é a peça do guarda-roupa à qual os homens, em geral, dedicam mais atenção e a que mais vende. Macchione destaca que muitos clientes trocam três ou cinco vezes de camisa e continuam usando a mesma calça. Pela sua observação, faz parte dos hábitos masculinos substituir a camiseta pela camisa por volta dos 30 anos. Mas a troca é cada vez mais tardia. "Nos últimos anos, você vai a qualquer lugar e os caras estão todos de camiseta. Não importa a faixa etária nem o peso", queixa-se.
Menos taxativa, Lu Pimenta, coordenadora de estilo da Daslu Homem, tem uma visão semelhante quanto ao "império da camiseta" que se instituiu entre os brasileiros. Frequentadora de um clube da elite paulistana, ela diz que, para descobrir quando um homem acabou de sair de um casamento, basta olhar para a maneira como se veste nos finais de semana. "Se ele estiver sozinho, usando jeans preto e camiseta preta, pode apostar que é recém-separado. Não sei o que acontece, mas os homens brasileiros acham que essa indumentária é sinônimo de juventude", afirma.
Nos editoriais de moda masculina e na propaganda produzida pela Daslu sempre há um esforço em apresentá-los de bermuda com camisa, embora não seja um hábito brasileiro. Ela diz que, em Punta del Este (Uruguai) ou na Europa, é comum os homens vestirem camisa quando estão na praia, mas no Brasil ninguém usa. A especialista acredita que isso ocorre, em parte,
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