Caruaru, no agreste de Pernambuco, é o retrato da prosperidade e das dores do desenvolvimento econômico acelerado.
Há dez anos, a cena se repete todas as terças-feiras. José de Santana Silva e Rosilene Conceição de Lima não dormem. O casal, na faixa dos 40 anos, engrossa uma caravana de vendedores sonâmbulos, mas resolutos que chegam ao centro da cidade por volta das três horas da manhã. Eles retiram de sacos plásticos centenas de peças de roupas feitas nas três máquinas de costura da pequena confecção que mantêm dentro de casa. Mal há tempo para estender peça por peça sobre o estrado de madeira das bancas de metais armadas a espera dos expositores.
A venda começa às cinco horas da manhã no ritmo frenético da barganha e não para antes do meio-dia. É nesse momento que uma mancha humana suada e já sem forças se dispersa sob o sol escaldante, em meio aos engarrafamentos, carregadores, gritos, garrafas pet e sacos espalhados pelo asfalto. Só depois de vencer a multidão e chegar em casa é que Silva e Rosilene contam os lucros, normalmente R$ 500 por semana, e se preparam para dormir. “Com um dia de trabalho, ganhamos a semana”, diz Silva.
Foto: Jorge Luiz Bezerra
O casal Silva e Rosilene: renda de uma semana com apenas um dia de trabalho na feira
Dessa rotina vive a Feira da Sulanca, em Caruaru, cidade conhecida em Pernambuco como a Princesa do Agreste, a 140 quilômetros do Recife. Hoje a Sulanca é o evento que melhor retrata o momento vivido pelo Nordeste. No aspecto econômico, é um dos símbolos da prosperidade local. Ela representa a expansão do setor de têxtil e de confecção, considerado um dos cinco polos de desenvolvimento do estado de Pernambuco. O dinheiro que ela movimenta se espalha, irrigando outros setores da economia local. “A feira da Sulanca reflete o crescimento da economia nordestina“, diz José Carlos Menezes, secretário de gestão de negócios públicos.
Do ponto de vista sócio-ambiental, no entanto, é uma demonstração do desafio criado pelo crescimento acelerado e desgovernado pelo qual passam muitas cidades nordestinas. A Sulanca invadiu as ruas com barracas, carregadores mal pagos e muito lixo a ponto de inviabilizar a rotina da cidade, exigindo uma intervenção do poder público. “Como ocorre em muitos municípios do Nordeste, Caruaru atravessa uma fase excepcional de desenvolvimento”, diz José Queiroz, prefeito do município. “Temos que correr muito para acompanhar o ritmo da economia: é imperioso oferecer infraestrutura e proteger o meio ambiente.”
Cerca de 30 mil expositores e 50 mil visitantes passam todas as terças-feiras pela Sulanca
Made in Nordeste
Caruaru é a cidade das feiras. Lá ocorrem 12 delas. O número de eventos é tamanho que se criou uma pasta na prefeitura exclusivamente para atendê-las. Quem vive na região chama a secretaria de gestão pública do município, que é responsável pelo comércio de rua, de “secretaria das feiras”. A Feira da Sulanca é uma das mais tradicionais porque está na origem da cidade. Sulanca é um sinônimo para retalhos de tecidos de baixa qualidade. Caruaru nasceu no entorno de uma feira onde se comercializava de tudo, principalmente restos de tecidos trazidos do Sul do País
Caminhar pela Sulanca hoje é transpor multidões. Somando vendedores e seus ajudantes, ela abriga quase 30 mil feirantes de 26 cidades num raio de 100 quilômetros. Há roupas a perder de vista. Camisetas, saias, regatas, calcinhas, cuecas, blusas, calças e meias intercalam-se em cores, formas e texturas em milhares de barracas cobertas com lonas de cor azul. Há ainda bolsas, calçados, miudezas em geral. Tudo ali é Made in Nordeste e sai de pequenas e médias empresas que, não raro, operam dentro da casa de seus donos. A cada terça-feira, comercializa-se ali uma média de dois milhões de peças de roupas. No Natal, o volume costuma dobrar, mas há quem diga que nas próximas festas de São João, outra especialidade local, a Sulanca vai vender o triplo da média.
Honório da Silva, 20 anos: R$ 100,00 por dia de trabalho como carregador de mercadorias
Do outro lado do balcão, cerca de 50 mil visitantes, entre varejistas de vários pontos da região e gente interessada em ampliar o guarda roupa, serpenteiam entre as mercadorias em busca de promoções. Pelas estimativas da prefeitura de Caruaru, toda essa gente movimenta cerca de R$ 50 milhões por dia de feira. A maior parte, em pequenas quantias, mas que fazem uma grande diferença. Estima-se que 80% das famílias da região dependam da feira direta ou indiretamente. Incluem-se as centenas de carregadores, que puxam quilos de mercadorias em carrinhos improvisados.
Honório da Silva, de 20 anos, pai mecânico e mãe doméstica, trabalha como carregador na Sulanca. Entre a madrugada e o meio-dia, equilibra pirâmides de mercadorias dos feirantes. A silhueta magra e alongada curva-se para dar tração ao veículo e fazer a carga chegar ao destino. O esforço que começa na madrugada e termina sob calor do agreste que passa dos 35 graus lhe rende R$ 100 por dia de feira. Uns R$ 400 por mês. “Cheguei a sair da feira, mas voltei”, diz Silva. “Aqui o dinheiro é certo.”
Linha de produção cultural
O dinheiro dos visitantes não fica só na Sulanca. Os compradores garantem movimento extra para o comércio local, onde estão instaladas 300 lojas, e ainda agitam outras das tantas feiras que ocorrem diariamente na cidade e em paralelo à Sulanca. Há quem passe na feira de frutas e legumes, cultivados por pequenos agricultores. Ou quem visite a chamada feira de importados, com eletroeletrônicos, relógios, óculos, brinquedos e toda sorte de quinquilharias a preços convidativos e procedência duvidosa.
Um dos símbolos de Caruaru é a feira de artesanato. A cidade é a terra de ceramistas consagrados como Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, que levou para o mundo a arte figurativa à base de argila. Severino Vitalino, seu filho, mantém a tradição original modelando peças no ateliê instalado na casa paterna, hoje transformada em museu no Alto do Moura, a comunidade de artistas considerada pela Unesco a grande referência da arte figurativa nas Américas. Lá Severino confecciona imagens que reproduzem os traços originais do pai. “Muita gente me pergunta por que não crio peças novas”, diz Vitalino. “Eu até poderia, mas temos uma arte muito rica que precisa ser preservada e hoje ela está cada vez mais comercial.”
Ana Maria, 22 anos, na oficina no Alto do Moura: 150 peças por semana pintadas a mão em série
O fato é que a pujança econômica local também envolveu a arte. Para dar conta da demanda que não para de crescer, há uma verdadeira linha de produção de esculturas em Caruaru. Ana Maria Paes dos Santos faz parte dessa engrenagem cultural. Há dias que trabalha das 6h30 às 19h. A tarefa da moça de 22 anos é replicar estampas floridas e dar cor aos vestidos das mulatas de argila que se alinham na feira de artesanato. Como o salário está atrelado ao número de peças que consegue entregar, com pinceladas precisas e ágeis cobre uma média de 150 bonecas por semana, o que lhe rende cerca de R$ 1,2 mil por mês. “A arte é uma forma de trabalho”, diz Ana Maria.
Falta de infraestrutura
Como a expansão da economia, todas as feiras cresceram e espalharam trabalho e renda por Caruaru. Mas foi a da Sulanca que extrapolou os limites. Ela infiltrou-se pelas ruas, inviabilizou o trânsito de pessoas e de veículos, deixando para trás todas as terças um rastro de garrafas pet, sacos plásticos e latinhas que se transformavam numa montanha de lixo. Ficou claro que suas dimensões eram incontroláveis quando no ano passado uma feirante morreu de problemas cardíacos antes que a equipe de socorro conseguisse vencer o labirinto de barracas e chegar até ela. “O centro não tem estrutura para comportar o movimento de tantas pessoas”, diz o prefeito Queiroz. “Precisamos preservar a segurança e o bem estar dos cidadãos.”
Para aliviar os efeitos colaterais do crescimento, a prefeitura, mesmo contrariando a maioria dos feirantes, interveio na feira. Em fevereiro, reuniu quase 70% dos expositores em um terreno de nove hectares na área central. As entradas e saídas do local são monitoradas com câmeras e seguranças. Para facilitar o acesso às barracas, os corredores têm tamanhos fixos de cinco metros, paras as vias principais, e de três, para as paralelas.
“A transferência da Sulanca para a área central foi paliativa porque há resistência à mudança necessária e preferimos o diálogo”, diz José Queiroz, prefeito de Caruaru. “Mas todos sabem que a melhor opção é instalar a feira em um centro comercial, na entrada da cidade, onde haja infraestrutura adequada, como estacionamento, banheiros e local adequado para alimentação.”
Rios com a cor da moda
A tarefa mais complicada tem sido dar conta da pujança na ponta industrial do setor de confecções, especialmente no segmento de lavanderias de jeans, o mais dinâmico. As lavanderias sempre foram um bom negócio, mas ganharam espaço a partir de 2007, depois que ajustes no sistema da barragem de Jucazinho elevaram em 70% a produção de água para a cidade. Há 20 anos, Caruaru convivia com o rodízio no abastecimento que prejudicava a expansão da indústria. De um dia para o outro, a oferta passou de 150 litros por segundo para 500 litros por segundo. Mais de 30 indústrias se instalaram-se na cidade nos últimos dois anos. As lavanderias foram as que mais se beneficiaram.
Foto: Jorge Luiz Bezerra
Peças em jeans: lavanderias do tecido é um dos segmentos da economia local que mais cresce
Hoje há cerca de 400 instaladas no município, a maioria sem registro e licença ambiental. Operando sem qualquer regulação, as empresas passam a comprometer justamente o bem mais precioso em locais secos como o agreste: a água. “Espalhadas por bairros residenciais, as lavanderias ficaram à margem dos órgãos reguladores”, diz Franco Vasconcelos, secretario de Desenvolvimento Econômico de Caruaru. “A agressão foi tamanha que os córregos passaram a ter a cor da moda – ora eram azulados, depois rosa ou esbranquiçados.”
Para deter a contaminação dos leitos, a prefeitura, em parceria com o Sebrae e o Instituto Tecnológico de Pernambuco, elaborou um plano para o setor. Idealizou um condomínio de lavanderias. A proposta é reunir as empresas dispersas pelo município em um terreno de dez hectares no distrito industrial. Pelo cronograma, a área para receber as empresas estará disponível no segundo semestre deste ano. No local as lavanderias poderão dividir os custos com energia e tratamento de efluentes. Cerca de 80% da água será reaproveitada. O plano inclui também a substituição da lenha pelo gás como combustível que aquece as caldeiras.
Inicialmente, 82 empresas (nem um quarto do total) aderiram. A expectativa, no entanto, é que a resistência ceda e a adesão cresça porque o Ministério Público tem feito diligências com a polícia e fechado empresas poluidoras. “Nosso trabalho não é apenas oferecer infraestrutura”, diz Vasconcelos, secretário de Desenvolvimento Econômico. “É promover uma mudança de mentalidade para que as empresas possam crescer na legalidade e sem prejudicar o meio ambiente e a qualidade vida no município.”
Fonte:economia.ig.com.br
Há dez anos, a cena se repete todas as terças-feiras. José de Santana Silva e Rosilene Conceição de Lima não dormem. O casal, na faixa dos 40 anos, engrossa uma caravana de vendedores sonâmbulos, mas resolutos que chegam ao centro da cidade por volta das três horas da manhã. Eles retiram de sacos plásticos centenas de peças de roupas feitas nas três máquinas de costura da pequena confecção que mantêm dentro de casa. Mal há tempo para estender peça por peça sobre o estrado de madeira das bancas de metais armadas a espera dos expositores.
A venda começa às cinco horas da manhã no ritmo frenético da barganha e não para antes do meio-dia. É nesse momento que uma mancha humana suada e já sem forças se dispersa sob o sol escaldante, em meio aos engarrafamentos, carregadores, gritos, garrafas pet e sacos espalhados pelo asfalto. Só depois de vencer a multidão e chegar em casa é que Silva e Rosilene contam os lucros, normalmente R$ 500 por semana, e se preparam para dormir. “Com um dia de trabalho, ganhamos a semana”, diz Silva.
Foto: Jorge Luiz Bezerra
O casal Silva e Rosilene: renda de uma semana com apenas um dia de trabalho na feira
Dessa rotina vive a Feira da Sulanca, em Caruaru, cidade conhecida em Pernambuco como a Princesa do Agreste, a 140 quilômetros do Recife. Hoje a Sulanca é o evento que melhor retrata o momento vivido pelo Nordeste. No aspecto econômico, é um dos símbolos da prosperidade local. Ela representa a expansão do setor de têxtil e de confecção, considerado um dos cinco polos de desenvolvimento do estado de Pernambuco. O dinheiro que ela movimenta se espalha, irrigando outros setores da economia local. “A feira da Sulanca reflete o crescimento da economia nordestina“, diz José Carlos Menezes, secretário de gestão de negócios públicos.
Do ponto de vista sócio-ambiental, no entanto, é uma demonstração do desafio criado pelo crescimento acelerado e desgovernado pelo qual passam muitas cidades nordestinas. A Sulanca invadiu as ruas com barracas, carregadores mal pagos e muito lixo a ponto de inviabilizar a rotina da cidade, exigindo uma intervenção do poder público. “Como ocorre em muitos municípios do Nordeste, Caruaru atravessa uma fase excepcional de desenvolvimento”, diz José Queiroz, prefeito do município. “Temos que correr muito para acompanhar o ritmo da economia: é imperioso oferecer infraestrutura e proteger o meio ambiente.”
Cerca de 30 mil expositores e 50 mil visitantes passam todas as terças-feiras pela Sulanca
Made in Nordeste
Caruaru é a cidade das feiras. Lá ocorrem 12 delas. O número de eventos é tamanho que se criou uma pasta na prefeitura exclusivamente para atendê-las. Quem vive na região chama a secretaria de gestão pública do município, que é responsável pelo comércio de rua, de “secretaria das feiras”. A Feira da Sulanca é uma das mais tradicionais porque está na origem da cidade. Sulanca é um sinônimo para retalhos de tecidos de baixa qualidade. Caruaru nasceu no entorno de uma feira onde se comercializava de tudo, principalmente restos de tecidos trazidos do Sul do País
Caminhar pela Sulanca hoje é transpor multidões. Somando vendedores e seus ajudantes, ela abriga quase 30 mil feirantes de 26 cidades num raio de 100 quilômetros. Há roupas a perder de vista. Camisetas, saias, regatas, calcinhas, cuecas, blusas, calças e meias intercalam-se em cores, formas e texturas em milhares de barracas cobertas com lonas de cor azul. Há ainda bolsas, calçados, miudezas em geral. Tudo ali é Made in Nordeste e sai de pequenas e médias empresas que, não raro, operam dentro da casa de seus donos. A cada terça-feira, comercializa-se ali uma média de dois milhões de peças de roupas. No Natal, o volume costuma dobrar, mas há quem diga que nas próximas festas de São João, outra especialidade local, a Sulanca vai vender o triplo da média.
Honório da Silva, 20 anos: R$ 100,00 por dia de trabalho como carregador de mercadorias
Do outro lado do balcão, cerca de 50 mil visitantes, entre varejistas de vários pontos da região e gente interessada em ampliar o guarda roupa, serpenteiam entre as mercadorias em busca de promoções. Pelas estimativas da prefeitura de Caruaru, toda essa gente movimenta cerca de R$ 50 milhões por dia de feira. A maior parte, em pequenas quantias, mas que fazem uma grande diferença. Estima-se que 80% das famílias da região dependam da feira direta ou indiretamente. Incluem-se as centenas de carregadores, que puxam quilos de mercadorias em carrinhos improvisados.
Honório da Silva, de 20 anos, pai mecânico e mãe doméstica, trabalha como carregador na Sulanca. Entre a madrugada e o meio-dia, equilibra pirâmides de mercadorias dos feirantes. A silhueta magra e alongada curva-se para dar tração ao veículo e fazer a carga chegar ao destino. O esforço que começa na madrugada e termina sob calor do agreste que passa dos 35 graus lhe rende R$ 100 por dia de feira. Uns R$ 400 por mês. “Cheguei a sair da feira, mas voltei”, diz Silva. “Aqui o dinheiro é certo.”
Linha de produção cultural
O dinheiro dos visitantes não fica só na Sulanca. Os compradores garantem movimento extra para o comércio local, onde estão instaladas 300 lojas, e ainda agitam outras das tantas feiras que ocorrem diariamente na cidade e em paralelo à Sulanca. Há quem passe na feira de frutas e legumes, cultivados por pequenos agricultores. Ou quem visite a chamada feira de importados, com eletroeletrônicos, relógios, óculos, brinquedos e toda sorte de quinquilharias a preços convidativos e procedência duvidosa.
Um dos símbolos de Caruaru é a feira de artesanato. A cidade é a terra de ceramistas consagrados como Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, que levou para o mundo a arte figurativa à base de argila. Severino Vitalino, seu filho, mantém a tradição original modelando peças no ateliê instalado na casa paterna, hoje transformada em museu no Alto do Moura, a comunidade de artistas considerada pela Unesco a grande referência da arte figurativa nas Américas. Lá Severino confecciona imagens que reproduzem os traços originais do pai. “Muita gente me pergunta por que não crio peças novas”, diz Vitalino. “Eu até poderia, mas temos uma arte muito rica que precisa ser preservada e hoje ela está cada vez mais comercial.”
Ana Maria, 22 anos, na oficina no Alto do Moura: 150 peças por semana pintadas a mão em série
O fato é que a pujança econômica local também envolveu a arte. Para dar conta da demanda que não para de crescer, há uma verdadeira linha de produção de esculturas em Caruaru. Ana Maria Paes dos Santos faz parte dessa engrenagem cultural. Há dias que trabalha das 6h30 às 19h. A tarefa da moça de 22 anos é replicar estampas floridas e dar cor aos vestidos das mulatas de argila que se alinham na feira de artesanato. Como o salário está atrelado ao número de peças que consegue entregar, com pinceladas precisas e ágeis cobre uma média de 150 bonecas por semana, o que lhe rende cerca de R$ 1,2 mil por mês. “A arte é uma forma de trabalho”, diz Ana Maria.
Falta de infraestrutura
Como a expansão da economia, todas as feiras cresceram e espalharam trabalho e renda por Caruaru. Mas foi a da Sulanca que extrapolou os limites. Ela infiltrou-se pelas ruas, inviabilizou o trânsito de pessoas e de veículos, deixando para trás todas as terças um rastro de garrafas pet, sacos plásticos e latinhas que se transformavam numa montanha de lixo. Ficou claro que suas dimensões eram incontroláveis quando no ano passado uma feirante morreu de problemas cardíacos antes que a equipe de socorro conseguisse vencer o labirinto de barracas e chegar até ela. “O centro não tem estrutura para comportar o movimento de tantas pessoas”, diz o prefeito Queiroz. “Precisamos preservar a segurança e o bem estar dos cidadãos.”
Para aliviar os efeitos colaterais do crescimento, a prefeitura, mesmo contrariando a maioria dos feirantes, interveio na feira. Em fevereiro, reuniu quase 70% dos expositores em um terreno de nove hectares na área central. As entradas e saídas do local são monitoradas com câmeras e seguranças. Para facilitar o acesso às barracas, os corredores têm tamanhos fixos de cinco metros, paras as vias principais, e de três, para as paralelas.
“A transferência da Sulanca para a área central foi paliativa porque há resistência à mudança necessária e preferimos o diálogo”, diz José Queiroz, prefeito de Caruaru. “Mas todos sabem que a melhor opção é instalar a feira em um centro comercial, na entrada da cidade, onde haja infraestrutura adequada, como estacionamento, banheiros e local adequado para alimentação.”
Rios com a cor da moda
A tarefa mais complicada tem sido dar conta da pujança na ponta industrial do setor de confecções, especialmente no segmento de lavanderias de jeans, o mais dinâmico. As lavanderias sempre foram um bom negócio, mas ganharam espaço a partir de 2007, depois que ajustes no sistema da barragem de Jucazinho elevaram em 70% a produção de água para a cidade. Há 20 anos, Caruaru convivia com o rodízio no abastecimento que prejudicava a expansão da indústria. De um dia para o outro, a oferta passou de 150 litros por segundo para 500 litros por segundo. Mais de 30 indústrias se instalaram-se na cidade nos últimos dois anos. As lavanderias foram as que mais se beneficiaram.
Foto: Jorge Luiz Bezerra
Peças em jeans: lavanderias do tecido é um dos segmentos da economia local que mais cresce
Hoje há cerca de 400 instaladas no município, a maioria sem registro e licença ambiental. Operando sem qualquer regulação, as empresas passam a comprometer justamente o bem mais precioso em locais secos como o agreste: a água. “Espalhadas por bairros residenciais, as lavanderias ficaram à margem dos órgãos reguladores”, diz Franco Vasconcelos, secretario de Desenvolvimento Econômico de Caruaru. “A agressão foi tamanha que os córregos passaram a ter a cor da moda – ora eram azulados, depois rosa ou esbranquiçados.”
Para deter a contaminação dos leitos, a prefeitura, em parceria com o Sebrae e o Instituto Tecnológico de Pernambuco, elaborou um plano para o setor. Idealizou um condomínio de lavanderias. A proposta é reunir as empresas dispersas pelo município em um terreno de dez hectares no distrito industrial. Pelo cronograma, a área para receber as empresas estará disponível no segundo semestre deste ano. No local as lavanderias poderão dividir os custos com energia e tratamento de efluentes. Cerca de 80% da água será reaproveitada. O plano inclui também a substituição da lenha pelo gás como combustível que aquece as caldeiras.
Inicialmente, 82 empresas (nem um quarto do total) aderiram. A expectativa, no entanto, é que a resistência ceda e a adesão cresça porque o Ministério Público tem feito diligências com a polícia e fechado empresas poluidoras. “Nosso trabalho não é apenas oferecer infraestrutura”, diz Vasconcelos, secretário de Desenvolvimento Econômico. “É promover uma mudança de mentalidade para que as empresas possam crescer na legalidade e sem prejudicar o meio ambiente e a qualidade vida no município.”
Fonte:economia.ig.com.br
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