sexta-feira, 26 de março de 2010

"25 de Março - SP" Livro mostra que famosa rua é bem mais velha do que parecia


Uma das ruas de comércio mais famosas do Brasil, a 25 de Março, no Centro de São Paulo, completaria nesta quinta-feira (25) 116 anos. Sim, completaria, porque, para a surpresa dos comerciantes, até dos mais antigos da região, um livro que chega às livrarias paulistanas no domingo, Mascates e Sacoleiros (Scortecci Editora, 158 páginas, R$ 30), revela que a rua é bem mais velha. "O primeiro ofício de registro é de 1865. Portanto, a rua tem 145 anos", diz o autor Lineu Francisco de Oliveira, economista e mestre em Administração.


Fruto de uma pesquisa que começou como um trabalho acadêmico, o livro é um apanhado de curiosidades desse tumultuado centro de comércio, que chega a receber nas vésperas de grandes datas comemorativas 1 milhão de pessoas - o suficiente para lotar 12,5 Estádios do Morumbi. Ali, o autor descobre, por exemplo, que o compositor Adoniran Barbosa trabalhou, em 1935, como vendedor e entregador de uma loja de tecido. "O mais intrigante é que ele foi demitido por ter o hábito de atender os clientes batucando no balcão", diverte-se Oliveira. "Mas ele preferia ficar na rua a ficar na loja."


É com a ajuda de detalhes como esse que o autor vai traçando o perfil da região ao longo do tempo. E mostra, assim, que alguns problemas persistem desde os primórdios.



ENCHENTES


A primeira grande enchente registrada na história da região ocorreu em 1.° de janeiro de 1850. Um temporal de seis horas alagou as casas às margens dos Rios Tamanduateí e Anhangabaú. Das 27 casas destruídas, 14 eram de taipa. As consequências das águas foram tão aterradoras que a cidade de Santos ajudou financeiramente a capital na recuperação dos estragos. A Rua 25 de Março começou numa região de Porto (daí o nome de uma de suas travessas, a Ladeira Porto Geral), de onde partiam mercadorias diversas pelos Rios Tamanduateí e Anhangabaú. Depois da grande enchente houve, segundo o autor, a mudança da rota do rio. Mais tarde houve a canalização, concluída em 1914. Mas até hoje a região é vítima das enchentes.


Outro problema é a criminalidade. Quem frequenta a rua sabe que é preciso sempre tomar muito cuidado com a carteira. As calçadas estreitas, tomadas por camelôs, e o excesso de pessoas deixam a via propícia para pequenos assaltos. Em 2006, a Guarda Civil Metropolitana inaugurou um projeto de monitoramento eletrônico, instalado nos pontos de maior incidência de roubos. Na época, Oliveira era gerente de sistemas da Prodam, empresa de processamento de dados, e coordenou a colocação das câmeras de segurança. "A equipe de trabalho foi ameaçada pelas gangues, que chegaram até a cortar os fios do sistema. Tivemos de contar com reforço policial."


Desde o início do século 20, a rua é palco de episódios policiais. Em 1908, o comerciante Elias Farah, dono de uma loja de tecidos, foi estrangulado, esquartejado e colocado dentro de uma mala por um de seus empregados, Miguel Traad, um imigrante árabe de Beirute. O criminoso pretendia jogar o corpo ao mar. Segundo o autor, são os crimes contra a Fazenda Pública que mais preocupam as autoridades atualmente, referindo-se à questão do contrabando, que hoje tem como figura emblemática o empresário chinês Law Kin Chong, multado em R$ 2.436.448 e preso, em 2007.



BONS NEGÓCIOS


A Rua 25 de março é conhecida por ter bons preços. Ali se encontram mercadorias a partir de R$ 1, caso de acessórios para cabelo vendidos nos camelôs. As lojas, porém, vendem de tudo, a preços variados. Cristais para lustres, roupas indianas, tecidos, cortinas e tapetes, entre outros artigos. Segundo dados da Prefeitura, 48% dos compradores gastam até R$ 2,5 mil lá. "A 25 de Março recebe todo tipo de público", diz Camila Abdala, da Loja Doural, com 150 funcionários. "Nossa gama de clientes vai da sacoleira até a madame, que chega acompanhada de seguranças. Ela escolhe e vai embora. A secretária paga a conta e a loja entrega em casa." (Valéria França - AE)


Fonte:cruzeirodosul.inf.br

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